A biografia de Charles Robert Darwin

As biografias dos jogadores - décima oitava biografia

Capítulo 101

A partida de futebol mundial entre os filósofos

Claudio Simeoni
traduzido por Dante Lioi Filho

 

As biografias dos filósofos

 

A biografia de Charles Robert Darwin

 

Charles Robert Darwin nasce em Shrewsbury aos 12 de fevereiro de 1809. Morre em 19 de abril de 1882.

O pai de Charles Darwin era o doutor Robert Waring Darwin. Logo que seu pai completou vinte anos de idade ele já havia chegado em Shrewsbury, em 1786, iniciando a profissão de médico e, então, adquiriu uma boa fama nesta sua profissão.

Robert Waring Darwin era um homem obeso que exercia a medicina e com esta sua atividade podia se permitir viver confortavelmente. Era maçom. Darwin descreve seu pai como um médico atento, apaixonado e um grande observador. Homem generoso, determinado e que estava sempre disponível. Ele cuidava dos pobres gratuitamente.

O avô paterno de Charles Darwin era Erasmus Darwin que tinha exercido a profissão de médico em Nottingham e em Lichfield. Era um homem muito ativo e de amplos interesses, considerado um tipo de precursor da teoria evolucionista.

A mãe de Charles Darwin era Susanna Wedghood que pertencia à burguesia inglesa desde quando seu pai passou a ter um laboratório artesanal de majólica, que transformou em uma indústria exuberante.

A educação de Charles na sua primeira infância foi dada pela sua irmã Carolina e posteriormente foi enviado à escola elementar de Shrewsbury que frequentou durante um ano.

Desde a aprendizagem elementar ele tinha uma paixão de colecionador e tinha a curiosidade de aprender os nomes das plantas.

Em 1818 Darwin começa a frequentar a escola de ensino médio de Shrewsbury direto com Butler, onde permanece estudando durante sete anos. A escola direto com Butler não lhe abria a mente para a vida, mas provocava um curto-circuito nos interesses dos rapazes com clássicos, um pouco de história, um pouco de geografia rigorosamente interpretados pelo ponto de vista cristão. Nunca estudou idiomas.

Darwin ao falar sobre si mesmo diz que durante os sete anos nos quais frequentou a escola direto com Butler, as únicas coisas positivas foram os experimentos de química do irmão e a leitura do livro "As maravilhas do mundo". Darwin treinou também para tornar-se um caçador experiente.

Em 1825 o seu pai enviou-o à Universidade de Edimburgo. O irmão de Charles terminava os estudos de medicina enquanto Charles os iniciava. Ele seguia particularmente as lições de química obtidas de Hope. Frequentou também as aulas de medicina embora as reputasse tediosas, e praticou nas enfermarias de hospital. Darwin tratou dos pobres de Shrewabury com a ajuda de seu pai que lhe dava conselhos. Não foi capaz de enfrentar as salas de cirurgias, não suportava ver sangue e aqueles tipos de operações.

Na universidade conhece o doutor Grant que havia publicado alguns trabalhos de zoologia, tornando-se professor junto à universidade College de Londres. Com ele Darwin discute de Lamarck, mas Darwin achou aborrecidas tais discussões porque já havia lido "Zoonomia", escrito pelo seu avô, onde haviam sido expostas ideias similares.

Em 1826 Darwin se interessou pela fauna marinha e com um microscópio velho estudava os ovos de Flustra e as cápsulas do Pontobdella muricata.

Charles Darwin frequentava o grupo da sociedade Pliniana mantida pelo professor Jameson. Dela faziam parte estudantes que se reuniam em uma sala subterrânea da universidade, com o escopo de serem lidos textos naturalísticos.

Darwin permanece na universidade de Edimburgo até 1828 quando seu pai veio a saber que ele nunca exerceu a atividade de médico; decidiu, então, encaminhá-lo à carreira eclesiástica. Então, Charles decidiu ponderar em ler algum livro e refletir no fato de que acreditava na bíblia, convencendo-se de que "o nosso Credo era aceito totalmente" mesmo se, diz, não estava muito disposto a acreditar no absurdo, como pretendia não discutir nenhum dogma.

No início de 1828 Darwin chega à Universidade de Cambridge. Em Cambridge permanecerá por três anos estudando teologia, mas considerará que foram anos desperdiçados. Não obstante, estudou atentamente os clássicos e superou comodamente o primeiro exame de bacharelado. Para superar o exame final teve que estudar as obras de Paley Evidências do Cristianismo e Filosofia Moral. A lógica destes livros e da "Teologia Natural" agradaram muito a Darwin.

Nesse meio tempo ele controlava a sua paixão pela coleção e classificação dos insetos. Darwin conta que certa vez descobrira dois insetos raros sob a casca de uma árvore, então apanhou-os com uma das mãos. Mas, vendo um terceiro inseto raro, decidiu colocar na boca um dos dois insetos. Aquele inseto soltou uma substância que lhe queimou a língua e ele foi obrigado a cuspi-lo perdendo todos os insetos.

Para ter insetos raros fez com que um operário apanhasse as cascas das árvores e raspasse o fundo dos barcos. Em Cambridge encontrava naturalistas entre os quais estava o seu primo W. Darwin Fox. Nesta ocasião começou a notar as diferenças entre os coleópteros.

Estes dados sobre a infância de Darwin permitem-nos entender como Darwin sempre teve a paixão pela observação e pela pesquisa.

Encontro crucial foi com o professor Henslow. Um eminente naturalista com quem Darwin estreitou amizade fazendo também longos passeios com este professor, jantando com frequência em sua casa. O professor conhecia muito bem a botânica, a química, a entomologia e a geologia.

Aos 27 de dezembro de 1831 começa para Darwin a viagem sobre o estreito de Beagle que será concluído em 2 de outubro de 1836. A viagem completa será publicada sob o título "Viagem de um naturalista ao redor do mundo". Um diário oportuno no qual Darwin anotará a suas observações. O diário é importante para os estudiosos porque contém as impressões com as quais Darwin extrai as suas conclusões como reflexões acerca do mundo e sobre a natureza da vida. As interpretações da realidade são elaboradas por Darwin com os olhos de colonialista, que ostenta uma superioridade de raça, e que estima todo o mundo com os princípios da ideologia cristã. Contudo, tanto no curso da viagem quanto nos escritos sucessivos Darwin modifica muito o seu ponto de vista acabando por promover uma verdadeira e precisa revolução na história do pensamento humano e na filosofia.

No dia 07 de março de 1837 Darwin adquire um apartamento em Great Marlborough Street em Londres, e permanece por dois anos até o momento em que não se casou. Enquanto isso continuava a trabalhar sobre "A origem das espécies".

Darwin diz que entre 1837 e 1838 encontrou-se a refletir muito sobre o problema da religião cristã. Quando estava sobre o estreito de Beagle fez algum marinheiro rir muito pela maneira como citava a bíblia nas questões morais. Todavia reputava todas as histórias da bíblia falsas como a construção da torre de Babel, o arco-íris como sendo o "sinal de deus" ou o atribuir a deus os sentimentos vingativos dos homens. Falsidade, segundo Darwin, que não eram diferentes dos escritos dos hindus. Os evangelhos em si não foram escritos contemporaneamente conforme os fatos narrados e, segundo Darwin, os milagres eram frutos da credulidade.

Em 1839 Darwin se casa. Do matrimônio nascerão cinco filhos do sexo masculino e uma filha, Annie. que morrerá aos dez anos em 1851.

Em 1842 Darwin faz, talvez, a última excursão para observar as rochas e a erosão das geleiras no Galles setentrional. Nestes anos a saúde de Darwin estava frágil e Darwin sofria muito.

Em Londres Darwin visitava com frequência o geólogo Lyell com quem estreitou uma amizade sólida tanto pessoal quanto científica.

Ao que se refere a ele, Darwin assim se expressa:

"A forte influência das obras de Lyell há um certo tempo podia-se constatar claramente no desenvolvimento diverso que a geologia havia assumido na França e na Inglaterra. Se hoje as hipóteses absurdas de "de elevação Elle de Beaumont tais como aqueles "das crateras de elevação" e as "linhas de elevação" (esta última a vi levar às estrelas por Sedgwick numa sessão da Geological Society) caíram no esquecimento total, o mérito é quase todo de LYell ".

Charles Darwin em "Viagem de um naturalista ao redor do mundo", ed. Feltrinelli, 1982, p. 52 - 53

Em Londres Darwin encontra e mantém relacionamentos com pesquisadores estudiosos, e com nobres de todos os gêneros e com interesses diversos.

No mês de setembro de 1842 Darwin se transfere para Down onde de qualquer modo permanecerá, de qualquer modo, até 1876.

Darwin publica (somente os títulos principais)

Viagem de um naturalista ao redor do mundo em 1839.

As Observações geológicas na América do Sul em 1846.

Publica um trabalho sobre Cirripedia.

Em 1859 publica "A origem das espécies".

Em 1862 publica um livro "Sobre a fecundação das orquídeas".

Em 1868 publicará um livro "Mudança nos animais domésticos e as plantas cultivadas.

Em 1871 Darwin publica "A origem do homem e a escolha sexual"

Em 1872 é publicado "Expressão das emoções no homem e nos animais".

Em 1874 sai "A evolução do homem".

Em 1875 Darwin publica o livro "As plantas carnívoras".

Em 1876 Darwin publicará "Efeitos da autofecundação e da fecundação cruzada no reino vegetal".

Em 1876 sairá também o livro "Diferentes formas de flores etc."

Em 1880 "Capacidade de movimento nas plantas"

Em 1881 Darwin envia ao editor o manuscrito "Formação do humus por ação das minhocas"

Darwin morrerá em 1882

Não há dúvidas de que ele passou toda a sua vida dedicando-a à pesquisa científica. Essa busca precipitou-se na filosofia e modificou-a no seu percurso e nas reflexões.

Darwin, mesmo sendo cristão, demonstra que o homem não é criado por Deus, mas veio-a-ser pela diversificação das espécies, que o precederam.

Os problemas que Darwin coloca na filosofia são muito importantes e com frequência os filósofos quiseram ignorá-los. Nos tempos de Darwin estimava-se que a bíblia era um livro histórico e não um conjunto de fábulas inventadas por pessoas obcecadas pelo delírio de onipotência, com o único escopo de imporem seus poderes.

Após Darwin a bíblia é encarada como uma mentira. Hipocritamente milhares de filósofos precipitar-se-ão para socorrer a bíblia contra não apenas a pesquisa científica, mas contra qualquer um que tentar construir um sistema filosófico que destaque o homem no centro do mundo ao invés de Deus.

O problema teológico que Darwin coloca aos cristãos é este: se o homem veio-a-ser pela diversificação das espécies, então cada espécie do ponto de vista teológico é um homem e tem as mesmas prerrogativas emotivas, psicológicas, intelectivas e divinas da espécie humana. Teologicamente falando não há diferença entre o homem e a minhoca, pois eles têm os mesmos estímulos que difundem no mundo de maneira diferente. Em suma, teologicamente e filosoficamente falando, um vírus é igual a um homem.

Dizer a qual coisa Darwin levou o pensamento humano é muito árduo. O conceito de eugenética com que Platão pretendia selecionar os homens em função de uma casta da sociedade, que ele queria impor, encontra em Darwin uma reflexão fundamental que será utilizada tanto pelos USA quanto por Hitler numa tentativa de selecionar uma melhora da raça.

Darwin escreve em "A origem das espécies e os fundamentos da evolução":

'Poder-se-ia encher um recipiente inteiro com os fatos que demonstram a forte tendência à hereditariedade em quase todos os casos de características congênitas, das mais insignificantes às mais notáveis. O termo <<características congênitas>> devo salientá-lo, é uma expressão vaga que indica apenas uma característica que se evidencia com relação à parte interessada está quase ou totalmente evoluída. Ao que se refere à parte discuti-los-ei na ocasião da vida embrionária em que aparecem, provavelmente, pela primeira vez, as características congênitas, e estarei em condições para demonstrar com alguma prova que em qualquer período da vida apareça pela primeira vez uma nova característica, ela tende a aparecer hereditariamente na prole em um período correspondente.
Seja como for, numerosas alterações tênues que se verificam nos animais na idade madura (muitas vezes - apesar disso longe de ser para sempre - tomando a forma de afeições), são conforme expresso no parágrafo primeiro, muito hereditários. Nas plantas, os rebentos que assumem uma característica diferente do cepo de origem tendem, do mesmo modo, a transmitir as suas novas características. Não existem razões suficientes para, todavia, acreditar que sejam as mutações, que sejam as alterações de tal forma produzidas por pressões mecânicas, mesmo se tiver continuidade por centenas de gerações, ou que cada alteração de estrutura origina-se, de improviso, em decorrência de uma doença; são hereditários: lembraria efetivamente que para tal o tecido da parte interessada deve crescer lentamente e livremente na forma nova. Temos uma diferença enorme na tendência hereditária com peculiaridades diversas e desta mesma peculiaridade temos também em indivíduos e espécies diferentes. Assim, em duzentas mil sementes do freixo que foram semeadas, nenhuma delas se desenvolveu de forma pura, enquanto dezessete sementes de teixo cresceram quase todas puras. Os bovinos <<Niata>> da América do Sul e a ovelha Ancon disforme e quase monstruosa quando se reproduzem ou cruzam com outras raças, transmitem as suas características à prole com a mesma precisão; parece que, quanto às raças ordinárias eu não posso lançar nenhuma luz sobre estas diferenças no poder de transmissão hereditária: os criadores acreditam que a aparência parece dar-lhes razão, que geralmente uma característica se torna mais estável após ter sido passada através de muitas gerações; se um indivíduo, entre vinte da prole, herda uma característica dos seus genitores, os seus descendentes tenderão em seguida a transmitir esta mesma característica em uma proporção muito maior de um a vinte, e assim por diante nas gerações sucessivas. Não falei aqui da hereditariedade das características mentais porque me reservo para tratar deste assunto em um capítulo à parte."

Darwin A origem das espécies e os fundamentos da evolução, Newton, 1984, p. 105 - 107

A seleção dos homens deste modo foi pensada por Platão e efetivada pelos cristãos. O genocídio dos hereges, executado desta forma pelos cristãos, nada mais era senão um ato de eugenia que tinha o escopo de tirar da sociedade os dissidentes.

Nós não podemos conhecer o tipo dos efeitos da eugenética realizada pelos cristãos nas sociedades, de fato se cada pessoa que pensasse o mundo de maneira diversa de como os cristãos queriam que o mundo fosse pensado, tal pessoa seria morta, perseguida, marginalizada com a finalidade de tornar desvantajoso economicamente, do ponto de vista social, esse modo de pensar e de viver o cotidiano. Garantindo vantagens àqueles que agissem em função do domínio cristão. Os cristãos colocaram em ação uma verdadeira e precisa seleção da espécie em que extirparam o conceito de liberdade do homem para substituí-lo pela necessidade de uma dependência de Deus e da autoridade que o representa.

Hoje pode-se afirmar que o Deus cristão não existe, mas não se pode afirmar que não exista uma dependência psico-emotiva da ideia de Deus numa porcentagem vasta da população. A seleção eugenética funciona como as sementes, sendo que nem todas reproduzem a necessidade de submeter-se e a rebelião à necessidade de submeter-se não responde mais às características que precederam o início da imposição da submissão, mas responde às novas características com as quais a submissão se representa além da história, mediante à qual, a submissão ficou impressa na estrutura psico-emotiva do homem.

A ideia da possibilidade de aplicar a eugenética aos homens está presente em Platão, ventilada por Tommaso Campanella e usada por dois mil anos pelos hebreus e cristãos (vide Deuteronômio) encontra uma margem na análise científica de Darwin e na prática oculta (entre hebreus e cristãos) tornando-se uma possibilidade social acabando por tornar-se a teorização do super-homem nazista. Assim é que as teorias de Darwin, ao invés de se tornarem motivos para a reflexão que nos leva a analisar as condições da experiência vivida, alimentou a ideia de que pode-se condicionar os homens para adaptá-lo às exigências alheias, tal como as ovelhas Ancon.

Vale a pena citar uma outra reflexão referente às causas variação dentro das espécies observadas por Darwin.

Darwin escreve:

'Aqui devem estar atentos a uma distinção importante na primeira origem ou a se manifestarem as variações. Quando vemos um animal bem cuidado produzir prole, com a tendência hereditária à maturidade precoce e `obesidade; quando vemos que o pato selvagem e o cão australiano apresentam sempre manchas na cor, quando cruzam e se reproduzem isolados, por uma ou por poucas gerações; quando vemos gente que vive em certos distritos, ou em condições, tornarem-se sujeitos com tendência hereditária a algumas doenças orgânicas como a tísica, ou a plica polônica, nós somos levados naturalmente a atribuir tais alterações aos efeitos diretos de agentes conhecidos ou desconhecidos que agem por uma ou mais gerações sobre os genitores. É provável que uma quantidade de características pode ser assim causadas por agentes externos desconhecidos, mas nas raças caracterizadas ´por um membro articulado ou por uma unha supranumerária como às vezes acontece com os pássaros domésticos e com os cães, ou com uma articulação a mais nas vértebras, pela perda de uma parte como o rabo, pela substituição de um tufo de penas com um pente , um certos tipos de poliame e em muitos outros casos; dificilmente podemos atribuir estas características diretamente a influências externas antes que indiretamente às leis do crescimento embrionário e da reprodução. Quando vemos uma multidão de variedades da mesma raiz e expostos naturalmente às mesmas influências externas, não podemos acreditar que as infinitas pequenas diferenças`entre as variedades de plantinhas assim produzidas são defeitos de uma diferença qualquer correspondente à sua exposição. A esta conclusão somos levados (como Miller salientou) quando vemos, em uma mesma ninhada produzida pelo mesmo ato de concepção, animais consideravelmente diferentes.
Dado que as variações, na forma que esboçamos, têm sido observadas, em relação aos animais, tão-somente àqueles domésticos, e em relação às plantas sobretudo entre aquelas que são cultivadas melhor e por um longo tempo, devemos em tais casos atribuir as variedades (embora as diferenças entre cada uma delas não se possa, absolutamente, remontar à qualquer diferença de exposição nos genitores) aos efeitos indiretos do estado doméstico acerca do sistema reprodutivo. Pareceria como se o poder reprodutivo falhasse na sua função ordinária para reproduzir novos seres estritamente semelhantes aos seus genitores e como se toda a organização do embrião, com a domesticação, se tornasse em certo grau plasmável. Após, tivemos ocasião para demonstrar que nos seres orgânicos uma alteração considerável das condições naturais de vida interessa, independentemente, do estado geral de saúde deles; é o sistema reprodutivo de maneira diversa e notável, O que posso acrescentar é que ao avaliar o grande número das variedades de plantas produzidas na mesma zona e com os mesmos métodos de cultivo que, provavelmente, os efeitos indiretos da domesticação ao tornar plasmável a organização da planta, constituem uma fonte muito mais eficaz de variedades do que não seja qualquer efeito direto que certas causas externas possam influir sobre a cor, a estrutura ou a forma de cada parte. Naqueles poucos casos em que, como na dália, O curso da variação foi registrado, parece que o estado doméstico produza por muitas gerações somente um pequeno efeito no plasmar a organização e que depois disto, como em decorrência de um efeito acumulado, de improviso, as características originais da espécie se percam ou se enfraqueçam.

Darwin, A origem das espécies e os fundamentos da evolução, Newton, 1984, p. 107 - 108

Darwin reflete sobre os efeitos que resultam de um estado de domesticação, isto é, a submissão mediante condições impostas, com relação às características reprodutivas e às variações introduzidas nas espécies.

A submissão, o estado doméstico, circunscreve o raio espacial em que determinada porção da espécie, separada do conjunto da espécie, pode continuar a viver. Continuar a viver é o estímulo objetivo que se manifesta em cada ser. Como esse continuar a viver pode ser comunicado pelo ser singular, determina a adaptação psico-física deste ser no ambiente circunscrito em que ele é obrigado a viver.

O ambiente medieval forçava os indivíduos a habitarem certa região. No feudalismo os indivíduos eram servos no campo, sendo eles constrangidos ao trabalho obrigatório e quando impossibilitados tanto militarmente (o arame farpado que cerca o rebanho) quanto culturalmente (privação do conhecimento no ambiente espacial em que viviam) a saírem do feudo ou do território. A adaptação das pessoas estava ligada às imposições feudais e para sobreviverem as pessoas obrigavam os seus filhos a submeterem-se à imposição feudal. Isto não significa que a tendência para modificar alguns aspectos que impunham a submissão, não fosse ativa, mas estavam completamente aniquiladas as modalidades com as quais aquela tendência era propagada anteriormente à chegada do cristianismo. As modalidades com as quais possa se manifestar a tendência para modificar o presente, que anteriormente era uma característica da espécie humana, que haviam se desenvolvido no curso de milh~es de anos, foram canceladas, e se desenvolveram modalidades diferentes, nas quais se propaga aquela mesma tendência dada uma nova situação social onde a espécie humana é forçada a viver.

A filosofia nunca refletiu sobre homens constrangidos a se adaptarem a situações impostas. A filosofia sempre preferiu falar de Deus, isto é do sujeito que impõe as condições de submissão às quais os homens são obrigados a se adaptarem. E também quando Darwin salienta a modificação das espécies no "estado doméstico", a filosofia disposta a justificar o absolutismo, ao invés de refletir sobre a condição humana, prefere usar a interpretação de Darwin como uma nova oportunidade para renovar a submissão do homem, ao invés de refletir sobre a necessidade de remover as condições que oprimem a estrutura psico-emotiva do homem.

O Estado doméstico, como na sociedade feudal, circunscreve o homem em um espaço limitado, obriga-o a se adaptar às situações impostas, constrange o homem a, por sua vez, constranger os seus filhos para se adaptarem a essas condições, privando-os dos instrumentos com os quais poderia construir para si um futuro diferente. Constrange os seus filhos do ponto de vista da servidão feudal, e conforme à condição da servidão feudal por vontade de Deus, é isto o que é interiorizado por esses filhos, dos quais o futuro pode acontecer somente dentro das condições feudais. Tanto na consecução para escalar a hierarquia buscando um lugar "ao sol", como para continuarem a serem servos submissos que retiram do esgoto com a pá os excrementos em nome do feudatário, no final o feudatário e o limpador de esgoto atingirão o limite do vir-a-ser humano entre os feudatários que jogam na guerra utilizando os coletores de excrementos e, ao mesmo tempo, competindo para controlar os coletores de excrementos.

É disto que tem-se a formação da "tipologia" do homem submisso ou de seleção eugenética dada pela construção de um ambiente coercitivo, do qual há o impedimento para homem encontrar a saída.

Darwin escreve em "A origem do homem e a escolha sexual"

'Existe ao contrário um outro problema importante, e a saber, cada subespécie ou raça humana que deriva de um único par de progenitores. Nos nossos animais domésticos uma nova raça pode ser prontamente formada por um único casal munido de alguma nova característica, ou quando um só indivíduo é assim caracterizado copulando com empenho, os filhos diferem; mas a maior parte das raças humanas não se formaram voluntariamente por um casal de escolha, mas inconscientemente, conservando alguns indivíduos com alguma fraca, útil e esperada variação. Se em uma região são habitualmente preferidas cavalos fortes e pesados, e em outra cavalos leves e velozes, podemos estar certos que em um determinado tempo serão produzidas duas sub-raças distintas, sem que nenhum casal singular e nenhum dos indivíduos tenha sido separado e criado em uma das duas regiões. Muitas raças se formaram por este modo e a formação delas é intimamente análoga àquelas das espécies naturais. Sabemos também que os cavalos levados às ilhas Falkland tornaram-se menores e mais débeis durante as sucessivas gerações, ao passo que outros que voltaram ao estado selvagem nos Pampas, adquiriram uma cabeça maior e pesada; e estas mudanças derivaram-se evidentemente não de um casal único qualquer, mas pelo fato de que todos os indivíduos foram submetidos às mesmas condições, talvez auxiliados pelo princípio de regresso. Em nenhum destes casos as novas sub-raças são derivadas de um único casal. ao contrário de muitos indivíduos que se diversificaram em diferentes graus, mas do mesmo modo geral; e podemos concluir que as raças humanas se produziram do mesmo modo, e que as suas modificações são o efeito direto da ação de condições diferentes, ou o efeito indireto de uma seleção qualquer.'

Darwin, A origem do homem e a escolha sexual, BUR, 1982, p. 232-233

Grupos de sujeitos, animais, plantas, homens, ou melhor, no geral, Seres Viventes que se modificam e não, como sustentam hebreus e cristãos, um indivíduo singular ou um casal que modificando-se cria uma descendência.

Um grupo se modifica pelas condições nas quais é obrigado a viver. Assim, os homens europeus se modificaram em razão da submissão ao cristianismo porque submissos e forçados a adaptar-se à submissão da qual não podiam sair. Quando os europeus começaram a colonizar o mundo não tinham conhecimento que o sistema de submissão era um sistema de relação entre os homens. Os cristãos prosseguiram não apenas a se exterminarem entre eles, no jogo do patrão que submete, e todos os outros que devem obedecer, mas em cada relação que construíam com outros povos (que não conheciam a ideologia do patrão que submete) foram avante por meio do extermínio e do genocídio em seus confrontos.

Eles se consideravam a "raça eleita", a "raça patroa em nome de Deus".

Geração após geração o cristão foi forjado. O homem que reputa ser normal entregar os seus filhos às igrejas cristãs e marcá-los o batismo.

Para impor características emotivas a um grupo, obrigando o grupo a interiorizá-las e colocá-las na base da própria identidade social, por dois mil anos que são uma eternidade. Ao contrário, para consentirem grupos humanos a viverem no Himalaia ou nos Andes valeram-se de mais milênios.

De fato, segundo Darwin, à base de uma mudança que é realmente efetivada por uma comunidade há grupos de indivíduos e não somente um indivíduo ou um casal. Esta ideia é antagonista à ideia do super-homem ou à ideia do Adão na origem de uma espécie. A diversificação das espécies é um "parto" coletivo, não individual.

Vale a pena ler a ideia de Darwin sobre a extinção das raças humanas.

Darwin escreve:

'A extinção parcial e total de muitas raças e sub-raças humanas são acontecimentos historicamente conhecidos. Humboldt viu papagaio na América meridional que era o único sobrevivente que ainda falava a língua de uma tribo extinta. Monumentos antigos e utensílios de pedra encontrados em todas as partes do mundo indicam extinções que sucederam. Tribos pequenas e dispersas, restos de raças antigas, sobrevivem ainda em regiões isoladas e principalmente montanhosas. Na Europa, segundo Schaaffahausen, as raças antigas eram mais primitivas do que as mais rudes e selvagens dos nossos dias", portanto devem ser diferenciadas, até um certo ponto, de cada raça existente. Os restos descritos pelo prof. Brown, provenientes de Les Eyzies, se bem que não parecem pertencer a uma só família, indicam uma só raça provida de uma combinação singularíssima combinação de características baixas ou simiescas, e outros altos, e <<totalmente diferente de qualquer outra raça, antiga ou moderna da qual tencionamos falar>>. Por isso, ela difere da raça quaternária das cavernas da Bélgica.
As condições físicas desfavoráveis não parecem ter tido um grande efeito na extinção das raças. O homem viveu longamente, nas regiões mais regiões mais setentrionais, sem madeira para fazer barcos ou outros dispositivos, e com gordura somente para queimar e para esquentar-se, mas sobretudo para dissolver a neve. Na ponta meridional da América os habitantes da Terra do Fogo vivem sem roupas. Na África meridional os indígenas são errantes nas planícies áridas principalmente onde abundam os animais mais perigosos. O homem pode suportar a ação mortal do Terai aos pés do Himalaia e as praias pestilentas da África tropical.
O extinguir-se de uma raça deriva sobretudo das lutas de uma tribo com outra, e de uma raça com outra. Sempre há vários obstáculos, como explicamos num capítulo precedente, que concorrem para limitar o número dos indivíduos de cada tribo selvagem - como as carestias periódicas, o nomadismo dos genitores e, portanto, a mortandade das crianças, a amamentação prolongada, o rapto das mulheres, as guerras, os acidentes, as doenças, a libertinagem, especialmente o infanticídio, e talvez a fecundidade diminuída devida aos alimentos menos nutritivos e pelos muitos esforços. Se por alguma razão qualquer um destes obstáculos decresce, embora levemente, a tribo favorita tenderá a aumentar de modo considerável; e quando uma das duas tribos aumenta tornando-se mais numerosa e mais forte do que a outra, a disputa subitamente termina em guerra, o massacre, o canibalismo, a escravidão, o englobamento. Também se uma tribo mais fraca não é destruída deste modo tão repentinamente, quando começa a perder força, é reduzida gradualmente, até extinguir-se completamente.
Quando as nações civis têm contato com os bárbaros a luta é breve, exceto onde um clima mortal auxilia a raça indígena. Entre as causas que tornam vitoriosas as nações civis, algumas são evidentes, outras muito obscuras. Cultivar a terra pode tornar fatal de vários modos aos selvagens que não podem ou não querem mudar os seus hábitos. Novas doenças e novos vícios são causas de grandes destruições ; e parece que em cada nação uma doença nova produz uma outra mortalidade, até que os mais fracos não desapareçam gradualmente; e isto também pode acontecer pelo efeito ruim de licores, e pelo alcoolismo de tantos selvagens. Parece que além disto o primeiro encontro de povos distintos e afastados gerem doenças. Sproat, que na ilha Vancouver se ocupou da extinção das raças, acredita que a mudança nos hábitos de vida, que sempre ocorre com a chegada dos europeus, produz muitas doenças. Ele também dá muita importância a uma causa antes frívola, ou seja, aquela em que os nativos permanecem <<estupefatos e assombrados com a vida nova que os cerca; perdem o motivo para agirem, e não se reproduzem>>.
O grau de civilização parece ser um elemento importantíssimo de conquista das nações que entram em desacordo. Há poucos séculos a Europa temia os ataques dos bárbaros orientais; portanto esse temor seria ridículo. É curioso que os selvagens não foram no passado tão arruinados, como observa Bagehot, as nações antigas, pelo que agora são as nações civis modernas; se isto tivesse acontecido, certamente os antigos escritores teriam relatado tal acontecimento; mas em nenhum escritor daquele período encontra-se indício da destruição dos bárbaros.
Apesar da diminuição gradual e da destruição final das raças humanas tem sido um problema obscuro, podemos todavia notar que depende de muitas causas, que diferem em vários lugares e em vários tempos. É o mesmo problema dificílimo da extinção de um dos animais mais notáveis - o cavalo fóssil, por exemplo, que desaparece de repente da América meridional após ter sido substituído por inumeráveis manadas de cavalos espanhóis. O Neozelandês parece estar consciente deste paralelismo porque compara a sua sorte futura com a do rato indígena, que quase foi destruído pelo rato europeu (...) O aumento de cada espécie e de cada raça é sempre freado por vários obstáculos; com os quais sobrevém alguma causa para captura, ou de destruição, mesmo que insignificante, a raça certamente diminuirá de número. e uma vez que foi observado que os selvagens são em qualquer lugar muito recalcitrantes à qualquer mudança de hábito, graças aos quais se poderia contrabalancear os obstáculos danosos, chegar-se-á, cedo ou tarde, à extinção, em muitos casos este fim vem determinado pelas incursões das tribos que aumentam e conquistadoras.

Darwin, A origem do homem e a escolha sexual, BUR, 1982, p. 233 - 236

Como se pode notar, o conceito de modificação dos vários grupos da espécie humana é pensada por Darwin num futuro muito próximo: tempos mais sociais do que tempos históricos.

O problema principal que Darwin quer ignorar é o de que somente os cristãos conduzem os povos à extinção massacrando-os em nome de Deus. A prática do genocídio é uma prática hebraica exaltada com a ordem de Deus, que os cristãos fizeram-na sua, e da qual Darwin não consegue separá-la pensando-a ser uma prática de "raça" ao invés de uma prática cultural imposta pelo cristianismo.

Além disto, mesmo sendo Darwin um estudioso de geologia, ainda não amadurecera a noção de tempo social para poder pensá-lo. Quando ele diz: "Humboldt viu um papagaio na América meridional que era o único sobrevivente que ainda falava a língua de uma tribo extinta". Existem os pressupostos que tornam a informação inadequada: o papagaio que fala uma língua, como Humboldt poderia saber que aquela tribo estava extinta e como ele podia associar os sons do papagaio a uma língua de uma tribo que estava extinta antes da sua chegada? Muitas tipologias de homens ou de hominídeos, de macacos, de mamíferos e de plantas foram extintas no decorrer das eras geológicas. muitas espécies de animais foram massacrados, vale por todos o Dodó, mas ao que refere aos homens das eras pré-cristãs mais do que extinção pode-se falar de integração e de fusão. Até há uns 50 anos pensava-se que o homem de Neanderthal fora extinto, hoje sabemos que ele contribuiu em larga escala para formar o homem europeu. O mundo está semeado por imundícies humanas, mas nem por isso deixam de existir os herdeiros.

As raças antigas? Quanto antigos eram aqueles homens?

O problema não é de pouca monta. Se a seleção das espécies por meio da eugenética pudesse acontecer por mais de duas ou três gerações, o comando de uma sociedade civil poderia empenhar-se nesta ação e tirar vantagem. Mas, se a seleção para que possa nascer uma nova espécie, requer milhares de anos de estabilidade social, nenhum comando social está apto para programar uma ação semelhante.

O cristianismo modificou a espécie humana em dois mil anos de seleção social, mas foram dois mil anos em que a espécie humana viveu, inconscientemente, as condições sociais que modificaram. A tentativa nazista para produzir um "super-homem" selecionando traços "raciais" faliu.

O homem de Cro-magnon, as descobertas de Les Eyzies, hoje datado há cerca de 30.000 anos, é parte integrante do homem europeu, um antepassado seu, da mesma maneira como é o homem de Neanderthal. Não se pode dizer que estão extintos, pode-se dizer que aqueles homens estão mortos.

Depois das raças antigas, Darwin fala das condições do seu tempo. Só que as condições do seu tempo são condições colonialistas e o colonialismo fez desaparecer numerosos grupos sociais.

A solução para a sobrevivência, Darwin encontra-a na "civilização moderna" quando escreve: "O grau de civilidade parece ser um importantíssimo elemento de saída das nações que entram em desacordo. Há poucos séculos a Europa temia as incursões dos bárbaro orientais, agora esse temor seria ridículo. É curioso que os selvagens não foram tão arruinados no passado, como observa Bagehot, pelas nações antigas, o mesmo tanto que são arruinados hoje pelas nações civis modernas; se isto tivesse acontecido, certamente os escritores antigos teriam relatado este acontecimento, mas em nenhum escritor daquele período encontra-se indícios referentes à destruição dos bárbaros". Desde o século de Darwin até os dias de hoje é o tempo do genocídio cristão de inumeráveis povos. Começaram a exterminar com Carlos Magno e perseguiram povos da África, Ásia e América Latina, massacrando-os, e na América do Norte promovendo o colonialismo tanto para vantagem como para cristianizar.

Darwin faz as suas observações conforme um indivíduo do seu tempo. Abre a porta para o conhecimento humano, mas é curioso que as suas reflexões têm sido usadas para alimentar a supremacia da "raça branca" ou "raça ariana" com o direito de massacrar todos os homens. Quando Hitler invadiu a URSS ele o fez com o intento de exterminar a "raça eslava" porque ele a considerava raça inferior para ser extinta.

Para compreender o impacto que teve o pensamento de Darwin na cultura, cito um capítulo extraído de "A ideia perigosa de Darwin", de Daniel Clement Dennett.

Dennett escreve:

'Uma característica evidente das concepções do mundo pré-darwiniano é um mapa geral hierárquico de todas as coisas. É descrita com frequência como uma <<escala>>; no cume está Deus e os seres humanos se encontram em um ou mais degraus abaixo (dependendo se os anjos façam ou não parte do esquema). No fundo da escada há o Nada. ou talvez o Caos, ou talvez a matéria inerte de Locke. Possivelmente há uma <<torre>>, ou, segundo a expressão memorável do histórico as ideias de Arthur Lovejoy (1936), uma <<grande corrente do ser>> composta de muitos elos. O raciocínio de John Locke já atraiu a nossa atenção em relação a uma versão particularmente abstrata desta hierarquia, que chamarei <<pirâmide cósmica>>.
Deus
Mente
Plano
Ordem
Caos
Nada
(Atenção: cada termo da pirâmide é entendido num sentido de que já está superado, pré-darwiniano!)
Cada coisa encontra a sua própria colocação em qualquer nível da pirâmide cósmica, até mesmo o Nada absoluto, o último fundamento. Nem toda a matéria está ordenada, uma parte está no caos; apenas uma parte da matéria ordenada está também projetada; apenas algumas coisas projetadas são dotadas de uma mente; é óbvio, enfim, que apenas uma mente é Deus, a mente primeira, é a origem e a explicação de tudo o que está abaixo. (Já que por isso cada coisa depende de Deus, talvez se deveria dizer que se trata de um lustre, que pende de Deus, em vez de uma pirâmide, que o mantém).
Qual é a diferença entre ordem e projeto? Como uma primeira tentativa, poder-se-ia dizer que a ordem constitui sempre regularidade, um simples esquema de fundo, enquanto o projeto é o telos de Aristóteles, um desfrute da ordem para um escopo, tal como aquele que é visto num artefato programado com perícia extrema. O sistema solar mostra uma ordem maravilhosa, mas não tem aparentemente um escopo - não serve para nada. Um olho, ao contrário, serve para ver. Antes de Darwin, tal distinção não era marcada de um modo cristalino, era absolutamente indefinido:
No século treze, Tomás de Aquino afirmou que os corpos naturais [como os planetas, as gotas de chuva, os vulcões] operavam como se fossem guiados em direção a uma meta ou um determinado fim, <<para assim obter um resultado melhor>> Esta correspondência dos meios aos fins implicava, no seu parecer, uma 'intenção'; mas já que vemos que os corpos naturais estão privados de consciência, neles esta intenção não pode ser encontrada. <<Por isso, existe um ser inteligente pelo qual são guiadas para as suas finalidades todas as coisas naturais, e nós chamamos este ser de Deus>> [Davies, 1992]
O Cleantes, de Hume, seguindo tal tradição, reúne as maravilhas adaptadas ao mundo vivente com as regularidades do céu - para ele tudo é símile a um magnífico relógio. Darwin sugere porém uma divisão: dê-me Ordem, diz, e Tempo e a vocês darei um Projeto. Deixai que parta com as regularidades - a simples regularidade física, privada de um escopo, de uma mente e de um significado - e vos mostrarei um processo que no final gerará produtos que mostram não apenas a regularidade, mas um projeto que tem um objetivo (Isto era o que Karl Marx pensou ter visto quando declarou que Darwin havia infligido um golpe mortal na teleologia. Darwin havia reduzido a teleologia ao não finalismo, O Projeto à Ordem).
Antes de Darwin a diferença entre ordem e projeto não estava em primeiro plano, uma vez que em cada caso tudo descendia de Deus. O universo inteiro era o Seu artefato, um produto da Sua inteligência, da Sua mente. Uma vez que Darwin pulou no meio, propondo-se a explicar como o projeto poderia emergir, da simples ordem, o restante da pirâmide cósmica é colocado em perigo. Admitamos, por hipótese, que Darwin tenha explicado o projeto dos corpos de plantas e animais (englobados os nossos corpos - devemos reconhecer que Darwin nos organizou firmemente no reino animal). Então, dirigindo-se o olhar para o alto, o nosso corpo foi confiado a Darwin, pode-se impedir-lhe de tomar também a nossa mente? (A questão será tratada, de várias formas, na Parte Terceira). Dirigindo o olhar para baixo Darwin pergunta, como premissa, sobre o que lhe foi dado pela Ordem, mas há qualquer coisa que lhe impede de descer de um nível e obter uma explicação em algoritmo sobre a origem da ordem do puro caos? (a questão será enfrentada no capítulo 6).
As vertigens e os calafrios que essa perspectiva provoca em muitos foram expressas perfeitamente em um dos primeiros ataques a Darwin, publicado anonimamente em 1868:
Na teoria com a qual devemos nos ocupar, o artífice é a ignorância Absoluta; portanto, pode-se enunciar como princípio fundamental do sistema inteiro que, COM A FINALIDADE DE CONSTRUIR UMA MÁQUINA PERFEITA E MARAVILHOSA, NÃO É NECESSÁRIO SABER COMO FAZER PARA CONSTRUÍ-LA. Com um exame atento se descobrirá que esta afirmação exprime, de forma concisa, o espírito essencial da teoria e que sintetiza com poucas palavras tudo quanto entende o senhor Darwin, o qual, com um raciocínio virado de cabeça para baixo de maneira bizarra, parece pensar que a Ignorância Absoluta tenha todos o títulos para tomar o posto da Sabedoria Absoluta em todas as realizações das capacidades criativas [MacKenzie, 1868]
Exatamente assim! O <<raciocínio virado de cabela para baixo de maneira bizarra>> de Darwin era de fato um modo de pensar novo e maravilhoso, capaz de inverter completamente a visão de uma Mente antes de qualquer coisa, que John Locke havia <<demonstrado>> e que David Hume não sabia como evitar. Em A Influência de Darwin na Filosofia (The Influence of Darwin on Philosophy) um livro pleno de intuições, publicado em algum ano após, John Dewey descreve com precisão tal capotamento: <<O interesse se transfere (...) de uma inteligência que deu forma às coisas, de uma vez por todas, às inteligências particulares às quais as coisas estão tomando forma até hoje>> (Dewey, 1910, p. 15). A ideia de tratar a mente como um efeito e não como <<causa prima>> é porém muito revolucionária para alguns - um <<exagero terrível>> que a mente deles não está em condições de acolher de uma maneira tranquila. Isto é verdadeiro hoje tanto quanto em 1860, e sempre foi verdadeiro tanto para alguns entre os melhores amigos da evolução, quanto para os seus inimigos. O físico Paul Davies, por exemplo, no seu recente livro A mente de Deus, declara que a capacidade reflexiva da mente humana não pode ser um <<detalhe banal, um subproduto secundário de forças privadas de mente e escopo>> (Davies, 1992). É o modo mais expressivo para formular uma recusa bem conhecida, do momento que denuncia um prejuízo mal analisado. Por quê, se poderia perguntar a Davies, o fato de ser um produto colateral de forças privadas de mente e de escopo, tornaria banal a capacidade reflexiva? Por quê a coisa mais importante de todas não poderia destacar-se por coisas irrelevantes? Por quê a importância ou o prestígio de qualquer coisa deveria chover lá do alto, como alguma coisa de mais importante, como uma dádiva de Deus? O virar de cabeça para baixo operado por Darwin sugere para abandonar tal assunto e ir em busca da diversidade de prestígios, valores e escopos que possam emergir borbulhando de <<forças privadas de mente e de escopo>>.
Alfred Russel Wallace, de quem a versão da evolução por seleção natural chegou até a escrivaninha de Darwin enquanto este estava ainda adiando a publicação da Origem, e que Darwin fez de modo a tratá-lo como co-autor do princípio, não aderiu jamais por completo o conceito. A propósito da evolução da mente humana, nos inícios Wallace estava muito mais disponível do que Darwin pudesse estar disposto, e num primeiro momento sustenta de maneira decidida que a mente humana não era exceção à regra, segundo à qual todas as características dos seres viventes são produtos da evolução; apesar de tudo isto, não conseguiu considerar o <<raciocínio virado de cabeça para baixo de modo bizarro>> como a chave para compreender o quanto é importante a grande ideia. Fazendo eco a John Locke, Wallace declarou que <<a maravilhosa complexidade de forças que aparentam controlar a matéria, se francamente não a constituem, é, e deve, ser um produto da mente>> (Gould, 1985, p. 317). Quando Wallace, anos adiante, se converteu ao espiritualismo e isentou a consciência humana da férrea regra da evolução, Darwin viu a fenda aumentar e escreveu-lhe: <<Espero que tu não tenha assassinado completamente a tua e a minha criatura>>. (Desmond e Moore, 199, p. 649).
Mas, era mesmo inevitável que a ideia de Darwin traria uma revolução tal, uma tal subversão? <<É evidente que os críticos não desejavam entender e até certo ponto o próprio Darwin a pia ilusão deles>> (Ellegárd, 1956). Wallace pretendia se perguntar qual poderia ser o escopo da seleção natural e, a despeito de um exame retrospectivo, que possa parecer um uso insano da sorte, que havia descoberto juntamente com Darwin, o próprio Darwin manifestou muitas vezes simpatia pela ideia. Ao invés de reduzir a teleologia até a Ordem isenta de escopo, por quê não reduzir toda a teleologia mundana a um único escopo, o de Deus? Não seria talvez um modo óbvio e tentador para cessar os impedimentos? No seu coração, Darwin tinha certeza que a variação de que dependia a seleção natural deveria ser fortuita e não derivar de um projeto, mas o processo também poderia ter um escopo. Numa carta datada de 1860 enviada ao naturalista americano Asa Gray, seu apoiante desde o início, Darwin escreveu: <<Estou propenso a considerar cada coisa como o resultado de leis "projetadas", com aquilo que podemos chamar acaso que avalia os detalhes, que são belos ou feios>>(F. Darwin, 191 l, vol. 2, p. 105)
Os mesmos processos automáticos são com frequência criações de grande originalidade. Do ponto de observação privilegiado de hoje. vê-se os inventores da transmissão automática e da abertura automática das portas, que não eram estúpidos totalmente e que a genialidade deles consistiu em compreender como construir um sistema capaz de executar algo <<engenhoso>> sem que devamos pensar. Tolerando um pouco de um anacronismo, poder-se-ia dizer que, aos olhos de alguns observadores daquele tempo, parecia que Darwin teria deixado aberta a possibilidade de Deus ter feito o Seu trabalho projetando um projetista automático. E para alguns a ideia não era um estratagema para uma solução desesperada, ao contrário, um melhoramento concreto da tradição. O primeiro capítulo da Gênesis descreve os vagalhões da criação que se sucedem, e cada uma termina com o refrão <<e Deus observou que era coisa boa>>. Darwin descobrira um modo para eliminar esta realização com detalhe do <<controle de qualidade inteligente>>: assumia-se o encargo da seleção natural, sem ulteriores intervenções por parte de Deus (Leibniz defendera uma concepção semelhante a esta, do Deus Criador que não interfere). Assim se manifesta a propósito Henry Ward Beecher : <<o projeto em grande quantidade é o mais grandioso do projeto ao detalhe>> (Rachels, 1991, p. 99). Asa Gray, fascinado com a nova ideia de Darwin, no entanto desejoso de reconciliá-la o quanto mais possível com o seu credo religioso tradicional, ele partiu para o matrimônio de conveniência: Deus se propôs o <<rio de variações>> e previu o modo com que as leis da natureza, que Ele havia determinado, o reduziu no curso dos éons. Como justamente, logo a seguir, havia observado, John Dewey, invocando uma outra metáfora comercial: << Gray acreditava naquilo que se poderia chamar de um projeto com um plano de pagamento parcelado>> (Dewey, 1910, p. 12)
Nas explicações evolutivas não é raro o uso de tais metáforas, que recordam o capitalismo. Referindo-se constantemente e com alegria a estes exemplos estão aqueles críticos e intérpretes de Darwin convencidos de que tal linguagem revele - talvez deveria dizer que trai - o ambiente social e político em que Darwin desenvolveu as suas ideias desacreditando-as assim (de qualquer modo) as pretensões de objetividade científica. É sem dúvida verdadeiro que Darwin, sendo um mortal comum, era herdeiro de uma enorme variedade de conceitos, modalidades expressivas, atitudes, prejuízos e modos de ver que acompanhavam a sua posição social como se expressaria um cavalheiro vitoriano), mas também é verdadeiro que as metáforas econômicas que vêm mente com tanta naturalidade quando se pensa em evolução extrai-se a força de uma das características mais profundas da descoberta de Darwin.

Daniel C. Dennett, A ideia perigosa de Darwin, Boringhieri, 2004, p. 79 -84

A ideia perigosa de Darwin por Dennett é a eliminação de Deus como sendo a base do homem e da natureza.

Todos os pressupostos que até o tempo de Darwin constituíam o fundamento da ideia religiosa cristã são demonstrados como falsos. O tornar-se do homem como produto das transformações da natureza elimina toda a afirmação cristã. A filosofia cristã reelabora os mesmos conceitos e fará de modo que afasta-os do sensível humano, mas será obrigada a fazer um trabalho de revisão ideológica para reafirmar o seu domínio particular sobre o homem.

Uma vez demonstrado que Deus é o nada, como foi afirmado por Hegel, aos cristãos não sobra muita coisa senão impor novamente a ideia de Deus ocultando-o numa transcendência mais perto da ideia neoplatônica que não é a ideia bíblica.

Deus não cria o mundo, o mundo vem-a-ser por si mesmo. O mundo não tem um fim; o fim do mundo é a existência do mundo. Assim, o fim de todos os Seres, que nós conhecemos no mundo, é a persistência deles para a vida, persistência esta que eles levam a cabo por intermédio de transformações contínuas de adaptação subjetiva às variáveis objetivas encontradas.

O cristianismo, despido de uma pretensa objetividade, continuará a ser isto que ele é: o efeito da manipulação mental aplicada desde a infância. Essa manipulação da estrutura emotiva aplicada pelos cristãos em um ambiente que cria sofrimento na infância. Seja sofrimento social em virtude de uma miséria social desejada e programada pelos cristãos com a finalidade de alimentar o seu próprio poder de controle da sociedade, seja individual, com uma repressão feroz contra o desejo sexual que ocorre na infância.

A miséria social alimenta a necessidade de socorro aos indivíduos reduzidos a condições miseráveis, aos quais nada resta senão a esperança vazia de uma condição de existência diferente que nunca será realizada.

A guerra declarada pelos cristãos a Darwin por um século e meio tem somente o escopo de impedir que a sua visão da vida baixe da cultura à "massa popular", que poderia reelaborar tais ideias para construir, também em gerações sucessivas, uma visão nova e diferente na existência deles.

Um outro aspecto que deve ser debatido, partindo dos trabalhos de Darwin, é o conceito de racismo. Darwin, com os seus trabalhos, fala de raça e de evolução dos homens em raças diversas. Esse discurso de Darwin se insere num contexto social impregnado por novos estímulos colonialistas que desde 1850 a França e a Inglaterra incitam para expandir o controle colonial no mundo. Esta operação servia para difundir a ideia de "superioridade da raça branca" que, por vontade de Deus, tem o direito de dominar o mundo.

Muitos aspectos do trabalho de Darwin prestam-se para serem usados com este escopo ou, de qualquer modo, são tais que não se opõem ao uso destas interpretações. Como exemplo, vale a pena citar alguns aspectos da "A origem do homem e a escolha sexual".

Darwin escreve:

'Pode-se começar dizendo que quando encontramos a mesma raça, embora divida em tribos distantes, dispostas sobre uma grande área, como a América, podemos atribuir a sua semelhança geral por serem todas derivadas de uma só estirpe comum. Em certos casos, o cruzamento das raças distintas produziu a formação de raças novas. O fato singular de que os Europeus e os Indianos que pertencem à mesma estirpe. Ariano e falam uma língua fundamentalmente igual são de aspecto um tanto diferente enquanto os Europeus diferem muito pouco dos Hebreus que pertencem à estirpe Semítica e falam uma linguagem completamente diferente, foi atribuído por Broca devido ao fato de que os ramos da raça Ariana são cruzados repetidamente, durante a sua difusão imensa, com várias tribos indígenas. Quando duas raças que vivem em contato se cruzam, o primeiro resultado é uma mistura heterogênea: desta maneira Hunter, descrevendo os Santali ou tribo das montanhas da Índia, diz que poder-se-ia traçar centenas de graduações imperceptíveis <<das tribos negras e dos baixos montes às altas oliveiras Brâmanes, com a fronte inteligente, olhos serenos e a cabeça alta e estreita>>; de maneira que nos tribunais é necessário perguntar às testemunhas se são Santali ou Hindus. Não se tem provas se um povo heterogêneo, como aquele dos habitantes de qualquer ilha da Polinésia, formado pelo cruzamento de duas raças distintas, com poucos indivíduos puros, jamais poderia tornar-se homogêneo. Mas, já que nos animais domésticos uma raça oriunda de um cruzamento pode, seguramente, no decorrer de poucas gerações, tornar-se estável e uniforme por seleção, podemos deduzir que o cruzamento livre e prolongado, durante muitas gerações de misturas heterogêneas vencerá qualquer tendência para um regresso, de forma que uma raça cruzada acabará por tornar-se homogênea, embora possa não apresentar, no mesmo grau, as características dos primeiros progenitores de raças diferentes.
Entre todas as diferenças que existem entre as raças humanas, a cor da pele é a mais evidente e uma das mais destacadas. acreditava-se antes que esta diferença pudesse ser atribuída à longa exposição nos variados climas; mas Pallas foi quem em primeiro lugar demonstrou que isto não tem nenhum fundamento, e foi seguido por quase todos os antropólogos. A distribuição das raças com cores variadas, muitas delas devem ter habitado uma porção das regiões atuais, não coincide de fato com as diferenças correspondentes de climas. Deve-se também dar um peso enorme a certos casos tal como aquele das famílias holandesas que, segundo o que temos escutado de uma testemunha muito competente, não mudaram em nada ao que se refere à cor, depois de terem morado durante três séculos na África meridional. O aspecto uniforme nas várias partes do mundo dos ciganos e dos Hebreus, se bem que a uniformidade destes últimos tem sido muito exagerada, é também um argumento a favor. Acreditou-se que uma atmosfera muito úmida ou muito seca possa modificar a cor da pele mais do que o simples calor; mas d'Orbigny na América meridional e Livingstone na África chegaram a conclusões diametralmente opostas no que tange à umidade e secura.
Como eu já disse alhures, a cor da pele e dos cabelos têm às vezes uma correlação surpreendente com a imunidade a certos venenos vegetais e a certos parasitas.
Portanto, parece-me possível que os negros e outras raças morenas possam ter adquirido as suas cores porque certos indivíduos mais escuros, por muitas gerações, puderam resistir à ação mortal dos miasmas dos seus países nativos.
Constatei, e antes de mim o fez o doutor Wells, que os negros, e também os mulatos, são quase todos isentos da febre amarela, que faz tantas devastações na América tropical. A maior parte deles não sofrem nem mesmo daquelas febres fatais intermitentes que subjugam no mínimo 2600 a milhares de pessoas nas costas da África, e que a cada ano fazem com que um quinto dos residentes brancos morram, e um outro quinto voltem doentes para a pátria. Esta imunidade dos negros parece ser devida, em parte, a alguma particularidade qualquer que é desconhecida, da constituição deles por outra parte pelo aclimatamento. Pouchet atesta que o regime dos negros, data do vice-rei do Egito com a guerra do México, recrutados perto do Sudão, ficaram imunes da febre amarela quase tanto quantitativamente aos que foram levados à sua origem pelas várias partes da África, e já estavam habituados ao clima das Índias ocidentais. Que o clima é importante, muitos casos demonstram isto, em que os negros, após terem vivido por um certo tempo num clima mais frio, estão sujeitos às febres tropicais. Também a natureza do clima em que as raças brancas viveram longamente tem alguma ação sobre eles; efetivamente durante a terrível epidemia da febre amarela em Denurara no ano de 1837, o doutor Blair deparou-se com uma média de mortalidade com imigrantes estava em proporção com a latitude dos países de origem (...)
Que a imunidade do negro tenha uma relação com a cor da pele, é apenas uma suposição: pode haver alguma relação com qualquer diferença no sangue, no sistema nervoso ou outros tecidos. Contudo, pelos fatos acima mencionados, e de alguma relação que parece existir entre a cor da pele e uma tendência à consumação, não me parece improvável. Por isso procurei pesquisar, mas com resultados insuficientes, para encontrar as provas. O doutor Danniell, que havia morado por longo período na costa ocidental da África, me disse que não acreditava numa relação deste tipo. Ele era extraordinariamente louro e de pele clara, e tinha suportado aquele clima maravilhosamente. Quando chegou lá era um menino, um velho chefe negro muito experiente havia previsto, difundindo-o, que o doutor Nicholson, da Antígua, não teria sofrido nada, escreveu-me que não acreditava que os Europeus de pele morena escapassem da febre amarela de um modo melhor do que aqueles que eram de pele clara. Inclusive J.M. Harris nega que os europeus de cabelos negros suportem melhor um clima quente de maneira melhor do que os outros homens; ao contrário, a experiência ensinou-os que devendo escolher por homens da costa da África, convém escolhê-los pelos que têm cabelos ruivos. Todavia, não parece haver nenhum fundamento nas hipóteses de muitos escritores de que as cores das raças negras possam derivar do fato de que os indivíduos cada vez mais negros hajam sobrevivido às febres amarelas em um número maior.
Se bem que com os conhecimentos atuais não podemos levar em consideração as diferenças de cor muito divididas entre as raças humanas, seja pelo que diz respeito à relação delas pela particularidade da constituição física, seja pela ação direta do clima, não devemos ignorar totalmente esta último agente, porque exitem boas razões para acreditar que são por herança.
No capítulo terceiro vimos que as condições de vida têm uma ação direta sobre o desenvolvimento da forma do corpo, e que os efeitos são transmitidos.
Pela ação combinada do clima e pela mudança dos hábitos, os Europeus, residentes nos Estados Unidos, sofreram uma mudança suave no aspecto, mas extraordinariamente rápida. Deles temos muitas provas que nos Estados meridionais os escravos domésticos da terceira geração apresentam um aspecto muito diferente do que os escravos nos campos.
Se, todavia, observarmos como as raças humanas estão distribuídas sobre a terra, devemos deduzir que as suas diferenças características não podem ser atribuídas à ação direta das diferentes condições de vida, inclusive suportadas por muitíssimo tempo. Os esquimós vivem exclusivamente de alimento animal; se vestem com uma peliça encorpada, e estão sujeitos a um frio intenso e a um obscuridade longa; todavia não diferem muito dos habitantes da China meridional, que vivem somente de alimentos vegetais, e se expõem quase nus num clima quente e muito árido. Os indígenas da Terra do Fogo não se nutrem a não ser de produtos marinhos das suas praias. Os Botocudos do Brasil vagam nos interiores das florestas quentes, e vivem principalmente de produtos vegetais; todavia estas tribos se assemelham muito entre elas que os indígenas da Terra do Fogo, a bordo do Beagle, foram confundidos por Botocudos por algum Brasileiro. E estes últimos como os outros habitantes da América tropical, são totalmente diferentes dos Negros que habitam as orlas opostas do Atlântico, e que estão expostos a um clima similar a eles, e vivenciam quase o mesmo gênero de vida.
E, nem mesmo podem ser atribuídas as diferenças que existem entre as raças humanas aos efeitos hereditários, exceto num grau mínimo. Os homens que estão habituados a viver em embarcações podem ter as pernas um pouco mais curtas; aqueles que habitam as regiões elevadas têm o tórax maior, e aqueles que empregam constantemente certos órgãos dos sentidos têm a cavidade maior onde estes se encontram, com uma modificação consequente nas suas feições. Nas nações civis, a diminuição dos maxilares devida a um menor exercício, o movimento costumeiro de diferentes músculos para exprimir várias emoções, e o aumento do volume do cérebro com uma faculdade mental maior, esse complexo todo agiu muito em conjunto no aspecto geral deles em comparação com os selvagens. É também possível que a estatura corpórea maior, sem o correspondente aumento do volume do cérebro, pode ter fornecido a algumas raças (tal como o exemplo precedente do coelhos) um crânio alongado do tipo dolicocéfalo,
Enfim, certamente ocorrerá o princípio de correlação como no caso do grande desenvolvimento muscular e da forte saliência das proeminências supraorbitais. Não é improvável que o tipo dos cabelos, que diferem muitos nas várias raças, possa ter alguma relação com a estrutura da pele, como sucede na tribo dos Mandani. A cor da pele e o odor emanado se relacionam mutuamente. No caso das raças de ovelhas, há uma relação no número de pelos com o número de poros excretores. Por analogia com os animais domésticos, muitas modificações da estrutura do homem são provavelmente submetidas ao princípio do aumento correlativo ou especial para o homem. A faculdade intelectual e moral, ou social, devem naturalmente ser deixadas à parte, porque não podem ter agido, ou ao menos numa parte mínima, sobre as características externas. A variação das diferenças das características entre as raças, demostra que também estas não podem ser de muita importância por si mesmas, de outro modo seriam mantidas e se tornado estáveis ou mesmo eliminadas. Por isso o homem se assemelha àquelas formas que os naturalistas chamam proteicas ou polimorfas que permaneceram muitíssimo variáveis, sendo de uma natureza indiferente, e como consequência pode subtrair-se da ação da escolha natural.
Somos de tal modo desiludidos em todas as tentativas para explicar as diferenças entre as raças humanas. Permanece ainda a escolha do relacionamento do sexo que parece ter realizado muito sobre o homem, como sobre os muitos outros animais. Não pretendo porém afirmar que a escolha sexual possa explicar as diferenças que existem entre as raças; permanecerá sempre, efetivamente, algo de inexplicável. Podemos somente dizer que considerando que certos indivíduos nascem, por exemplo, com a cabeça um pouco mais redonda ou mais estreita, e com o nariz um pouco mais longo ou mais curto, estas diferenças leves podem se tornar estáveis e uniformes, se os agentes desconhecidos que as induzem agem de um modo mais constante, e depois de longos e contínuos cruzamentos. Tais modificações, por falta de termos mais exatos, são denominadas variações espontâneas. Nem pretendo que os efeitos da escolha sexual possam ser indicados com precisão científica; mas pode-se demonstrar que o homem deve ter sido modificado por esse agente, que operou com tanta potência sobre inumeráveis animais, evoluídos e primitivos. Pode-se demonstrar, além disto, que as diferenças na cor, na cabeleira, nos delineamentos faciais são do tipo que nós esperaríamos, no caso, se derivassem de uma escolha sexual. Mas para tratar precisamente deste argumento, acreditei ser necessário fazer uma revisão em todo o reino animal, por isso dediquei para este escopo a segunda parte do meu livro. No epílogo voltarei ao homem, e depois de ter tentando demonstrar até onde ele pode ter sido modificado pela escolha sexual, darei um breve resumo dos capítulos desta primeira parte.'

Darwin, A origem do homem e a escolha sexual, BUR, p. 236 - 242

Com isto Darwin se presta para confirmar a divisão racial da humanidade. Daqui para estabelecer a superioridade da raça branca é um passo curto. No fundo, Darwin não determina a estrutura social do homem, limita-se a observá-la, mas ao observá-la toma as aberrações sociais, como a escravidão, e a discute como se fosse um fato isento de implicações e isento de algum impacto na sociedade.

Os escravos da terceira geração são diferentes dos seus progenitores sequestrados e expatriados da África: como se as condições de existência dos progenitores fossem as mesmas da terceira geração de escravos. Esta tentativa de não querer enxergar as implicações da condição social que determina adaptações psico-emotivas nas pessoas, para buscar modificações de característica física constitui uma lacuna de Darwin. Mas Darwin é educado para ser um "súdito da sua majestade" de forma que ser um súdito não comporta modificações diferentes do ambiente "racial" em que vive. É a raça o objeto da discussão, não as condições sociais em que as pessoas vivem.

Este modo de pensamento de Darwin é derivado diretamente da educação cristã segundo a qual "qualquer coisa que fazes ao homem não modificará a qualidade da criação divina", por outro lado, a transformação imediata do indivíduo não depende, segundo Darwin, das condições sociais. O italiano que foge da fome e imigra para os Estados Unidos, é objetivamente diferente do seu filho que, nascido nos Estados Unidos, pode frequentar uma escola qualquer e adquirir algum cargo social.

Mas a diversidade não é "biológica", A "biologia" é a mesma. Mudou apenas o ambiente social e o ambiente cultural no qual o indivíduo se adaptou.

Uma outra lacuna no pensamento de Darwin é o de pensar que a pele de uma população adquire uma cor diferente num período de algumas dezenas de gerações. É um limite seu como é limitada a busca científica do seu tempo. O problema é social. Acreditar que a não modificação da pele para os holandeses que há trezentos anos estão na África é devida à não influência do ambiente, significa avalizar uma diversidade racial que implica na existência de uma raça superior, dominante, e de uma raça inferior. Significa renovar aquela ideia do "povo eleito" ou da "raça superior" ou do "povo de Deus"onde todos os outros homens devem se colocar de joelhos e se não o fazem, são exterminados.

Darwin não promove nada, ele observa e comenta conforme está em condições de cometar. Os outros interpretam. Aqueles que querem usar o trabalho de Darwin, em termos racistas e discriminatórios, são economicamente e socialmente mais fortes do que alguém que poderia usar os trabalhos de Darwin contra o domínio e o obscurantismo imposto pelos cristãos. Por isso foi mais fácil usar Darwin para tornar legítimas formas de racismo, ao invés de usá-lo para libertar a sociedade do constrangimento do racismo e ódio cristão.

Na sociedade o racismo representa a fonte ideológica de cada ódio social que é alimentada e propagada em toda ocasião para fins de poder político e social. Para entender o mecanismo do racismo social não podemos nos basear na biologia ou sobre os trabalhos de Darwin, mas sobre o uso social do racismo que com frequência é justificado com a biologia.

A este propósito Jonathan Marks escreveu um livro com o título "O que significa ser chimpanzé aos 98% onde enfrenta a questão do racismo com uma série de reflexões.

Jonathan Marks escreve:

'De parte franjas malucas sadomasoquistas, na América de hoje é difícil encontrar muitas pessoas que torcem pelo racismo. Crescemos aprendendo que o racismo, qualquer que seja, é um mal. Infelizmente trata-se de um termo de tal modo abusado que arrisca-se de perder o seu poder. O problema é que aprendemos que o racismo é errado sem aprender exatamente o que ele é. Certas vezes, por exemplo, ouvimos dizer que é racista afirmar que a propensão ao crime é genética. Se é verdade, é só indiretamente, só na medida em que as taxas de criminalidade estão vinculadas, na América, à raça. É estúpido dizer que a "criminalidade" é genética, afirmando incorrer na aporia da hereditariedade (vide abaixo, pp. 136 142). Todavia, não acho necessariamente racista porque não diz nada de específico sobre os presumidos grupos naturais chamados de "raças".
Igualmente, de vez em quando ouvimos dizer que o racismo existe somente quando se exerce o poder e, portanto, os pobres não podem ser racistas, pois não possuem esse poder.
Contudo, é um discurso um tanto quanto insatisfatório, pelo mesmo motivo: elimina a "raça" do conceito de "racismo". Se o racismo tem de fato algo a ver com o poder, então de acordo com a minha opinião deveríamos chamá-lo de "poderismo". Além disso, há alguma coisa antes inquietante em ignorar os pobres que odeiam.
Não podem ser racistas tanto quanto os ricos? Embora privados de meios institucionais para concretizar o seu ódio, a história demonstra que as massas enraivecidas podem se tornar de vez em quando bastante perigosas. Por quê absolvê-las de toda responsabilidade pelo seu ódio, apenas pelo motivo do seu mais baixo status sócio-econômico? De qualquer maneira, o racismo tem a ver com a raça, porém é diferente da ideia folk-hereditária, que todas as pessoas possam ser naturalmente reagrupadas em poucos grupos grandes. O racismo é um erro folk-hereditário que pressupõe a existência destes grupos e julga os indivíduos com base nas propriedades dos grupos aos quais são atribuídos.
É uma ciência ruim porque é anti-empírica: não tens necessidade de desaprender se um negro específico é estúpido porque sabes antecipadamente que os negros são estúpidos, não tens necessidade de saber se um hebreu específico é ávido porque sabes antecipadamente que os hebreus são ávidos. E é politicamente abominável porque é um princípio fundamental da nossa democracia que a pessoa deva ser como pessoa singular e não pelas propriedades atribuídas ao seu grupo.
Disto temos a analogia óbvia com o sexismo, onde as categorias são mais naturais, mas o erro é o mesmo.
O racismo é uma falsidade folk-hereditária porque a sua suposição central é que os atributos da raça estariam esculpidos na constituição física do indivíduo singular.
É importante recordar o fato de que das raças não existem, enquanto entidades naturais, não incidem no racismo. O racismo é um fenômeno real, social.
Dito de outro modo, o racismo enviado contra os hebreus, irlandeses e porto riquenhos não constitui racismo menor porque as suas vítimas não são membros de unidades biológicas naturais.
É menos paradoxal do que possa parece. O cristianismo existe como fenômeno social, que Deus exista ou não como fato natural, e obviamente as obras da igreja ao moldar o mundo moderno, são muito mais concretas do que aquelas de Deus. Os fenômenos sociais podem ser talvez imensamente potentes independentemente do fato de existir uma base natural sua.
O principal paradoxo da antropologia do século novecentos é ter-se apropriado da capacidade para definir quais são as raças "reais"
sobretudo depois da tomada do poder por parte dos nazistas na Alemanha. Os antropólogos, físicos americanos esforçaram-se para denunciarem as políticas e as ideologias nazistas concentrando-se sobretudo sobre o isolamento "racial" deles e sobre a perseguição de hebreus e ciganos, e criticaram os alemães negando que hebreus e ciganos fossem raças "verdadeiras", visto que apenas um especialista sabia o que era "de verdade" uma raça.
Como argumentos tinham a finalidade do bem, era um pouco de como quando os eruditos medievais debatiam sobre os anjos. O tema verdadeiro não era a raça, era o racismo. As pessoas que odeiam os hebreus odeiam independentemente das declarações dos cientistas (inclusive se os estudiosos possam dar uma trágica credibilidade a tais distorções) e independentemente dos dados da genética (mesmo se as diferenças naturais possam dar também aqui uma certa credibilidade) o racismo existe com ou sem a ciência auxilie. O racismo científico é abominável para aqueles que querem uma ciência benévola e libertadora ou pelo menos que fique neutra. Mas, ver invocar a genética com fins opressivos emporcalha a ciência com a cor da demagogia. E, assim, certas vezes os geneticistas nos dizem, com os olhos úmidos, que a genética minará as bases do racismo demonstrando que as raças não existem.
Sonhem também.
O problema, conforme a ótica do antropólogo molecular pode revelar, é que os tributos de grupos não são fatos genéticos, mas folk-hereditários. Realmente, qual propriedade biológica pode gravar-se indelevelmente nas fibras mais íntimas de cada membro de um grupo e em nenhum membro de um outro? As pessoas declaram guerra por tantos motivos, e com frequência para vencerem rebaixam e execram o adversário. Na medida em que o adversário é um grupo de pessoas, estas pessoas se tornam objeto de ódio porque encarnam a natureza do conflito.
Mas tal encarnação é simbólica, não biológica.
Portanto, a genética não vai muito longe para a solução do problema do racismo, visto que o racismo não tem muito a ver com a genética. Ele já existia muito antes dela.
Há um outro aspecto que não deve ser olvidado na ligação entre genética e racismo. Eu estou sempre estupefato quando escuto afirmar-se na propaganda sociobiológica, que os humanos têm ínsita em si uma propensão hereditária à "xenofobia", o temor ou ódio por outros, ou na forma mais grandiloquente uma base genética para o genocídio. Obviamente aqui viajamos sobre um terreno minado. Não queremos certamente celebrar ou glorificar o martírio e as vítimas, dado que serve somente para minimizar a experiência e limitando o seu significado. Os genocídios são uma tragédia enorme e admitindo-se a sua universalidade ajudamos a promover aquela tolerância que pode desencorajar os holocaustos futuros. Mas quais são as implicações em afirmar que teriam uma base genética? No fundo admitindo a sua universalidade não queremos, nem ao menos, com isto banalizar o genocídio.
A tese apresentada em sociobiologia, e proposta frequentemente como ciência, é que é muito fácil odiar e desejar matar os outros diferentes de ti. É de tal modo fácil que praticamente é universal. A "xenofobia" parece difundida em toda a espécie humana, não conhece limites raciais. Portanto, todos têm uma mancha do mal no coração, nenhum grupo está imune. Mas o que, exatamente, forma o medo ou o ódio pelos "outros"? Como fazes para saber seriamente quem são os "outros"? Como fazes para reconhecê-los quando os encontra? O que são de verdade aqueles "diferentes" de ti, e o que fizeram para ser diferentes de ti?
Obviamente em nada é racional imaginar que todos os antagonismos de grupo ocorram somente entre povos diversos geneticamente ou biologicamente.
Capuleti e Montecchi eram biologicamente diversos? Ou os vietcongues e os sul-vietnamitas? Ou os Crips e os Bloods? É este o ponto essencial: a xenofobia, qualquer coisa que seja, ou para ser mais precisamente a percepção da "alteridade", do ser alienígena, não se baseia em diferenças naturais. Baseia-se pela língua, pelo deus que adoram, pelas tradições, pela dieta, atividades e crenças, em coisas que venham a saber, não em coisas inatas.
Portanto a alteridade é uma construção artificial, não um dado da natureza. Decidir que quem percebe como estrangeiro e quem pode ser suspeito, odiado, ou até mesmo considerado passível de morte, baseia-se no geral pelas características culturais e sobre histórias culturais. Os conflitos genocidas máximos ocorrem entre povos muito similares do ponto de vista biológico: hutus e bósnios, israelenses e palestinos, uronis e iroqueses, alemães e hebreus, ingleses e irlandeses.

Eis porque creio que a hipótese da potencial universalidade, e portanto da base genética, do genocídio, seja biologicamente irrelevante, visto que pressupõe uma diferença natural entre os dois grupos, vítimas e opressores, que frequentemente não existe. Então, como pode ser importante para explicar ou compreender o significado de genocídio?
É a cultura que define quem será aquele que o teu grupo odiará. É definido pela cultura para que o teu grupo venha a odiá-la. É definido pela cultura aquilo que se espera que tu faças a propósito. Não distingo alguma vantagem ao falar de qualquer base biológica do genocídio porque tal base, se também existisse, nada explicaria.
Por isso a lição do holocausto não está tanto em ter nos mostrado a tentativa por parte de um grupo em destruir o outro, que com efetivamente é um tema trágico da história global humana da humanidade, mas ao contrário por nos ter feito entender que foi realizado pelos europeus contra eles mesmos e que aconteceu numa época em que se presumia que existisse um mínimo de progresso.
Não está de fato claro o que ganhamos em pressupor que os genes estão relacionados com o genocídio. Isto serve somente para absolver os culpados de toda responsabilidade, porque "não foi culpa nossa, mas está na natureza do homem" e seria seguramente um uso perverso da genética.
Portanto, na medida em que podemos decidir que o racismo não é biologicamente significativo, a sua base genética torna-se insignificante.
Para ser mais preciso, torna-se hereditariedade folk.
Mas a aporia do racismo não é compreendida somente na forma do genocídio. O horror central consiste em desumanizar uma pessoa por percebê-la como sendo membro de um grupo e não com um indivíduo em si. É uma faca de dois gumes, é maléfica às duas partes.
Indagaram-me, recentemente, acerca de revisar um livro sobre um tema que o autor considera-o melodramaticamente vítima de uma conspiração do silêncio, sendo aparentemente um argumento tabu: a superioridade genética dos negros nos esportes.
Pois bem, todos sabem que os negros destacam-se nos esportes mais importantes. É suficiente vermos o basquete, as linhas secundárias da defesa e os que carregam a bola no futebol americano, no box. Mas como se faz para passar do "destaque" a "racialmente superior"? Temos três importantes variáveis simultâneas que conspiram para tornarem qualquer um superior no esporte: as atitudes individuais (sejam elas quais forem), o ambiente social e cultural (compreendidas expectativas, oportunidade, aquela que é considerada uma ocupação respeitável, et cetera) e os hábeis do grupo. Com três causas e um efeito apenas, não se pode tirar uma conclusão racional sobre a origem da superioridade dos negros no esporte.
Consequentemente, temos pouquíssimas possibilidades que alguém possa concluir que há uma superioridade racial no centro de uma indiscutível preeminência de negros nos esportes.
Ou quem fala é incapaz de tirar conclusões rigorosas com os dados fornecidos, ou a conclusão racista é a que precedia e era independente dos dados.
O autor nega indignado ser ilógico ou racista e insiste que ele não estava dizendo que os negros são inatamente piores do que os brancos, como fizeram, por exemplo, Herrstein e Murray para a inteligência no seu The Bell Curve (que ele se esforça para repudiar), mas ao contrário, que são inatamente melhores.
Contudo, constitui uma diferença irrelevante pensar que "eles" são melhores ou piores, visto que o erro consiste precisamente em atribuir a "eles" uma propriedade inata qualquer na ausência de provas genéticas.
O problema reside em que coisa constitui uma prova científica e uma rigorosa hipótese científica para identificar as diferenças inatas junto a um grupo?
Podeis citar os sprinter afro-caribenhos, as maratonas ti kenioti ou Michael Jordan e a NBA até o dia do Juízo, mas não se dirá nada sobre propensões genéticas da gente negra no esporte mais do que o espírito arguto de Jack Benny e o predomínio dos hebreus no humorismo que demonstrem a presença de genes da comicidade nos hebreus. O erro de The Bell Curve não está tão concentrado nas hipotéticas bases raciais e na característica indesejável inata, a estupidez, o quanto que se deduz pela característica de nascença apenas observando um predomínio (de outras raças). Na prática, a hipótese esportiva está na essência idêntica à da The Bell Curve veja aqui, há um comportamento periódico tão óbvio e coerente desta característica naquela gente, portanto deve ser de nascença. Quod erat demonstrandum.
O fato de alguma coisa ser observada com constância não implica que haja uma causa genética. Isto já sabemos. Se quisermos discutir de ciência e genética, temos necessidade de dados controlados e dados genéticos.
O autor pretende uma refutação, definindo-me (e colocando-me assim em ótima companhia) um "ambientalista" para fazer-me parecer um comedor de tofu que abraça as árvores. Mas como nota-se acima, é um dogma da ciência que o ônus da prova cabe sempre a quem reivindica uma descoberta. Eu não devo refutar a afirmação de que os negros são superiores racialmente enquanto atletas mais do que deva refutar a afirmação de que são os anjos que causam as mutações ou que se pisas numa fenda da calçada tu quebras as costas da tua mãe. Se queres participar de debate científico deves ater-te às suas regras, do contrário acabarás em agitar o punho contra o céu resmungando: "Tolos! avaliam-me louco! Mas eu lhes farei ver... farei com que todos vejam".
O que ocorreria então para demonstrar que os negros são de nascença favorecidos como atletas? Sobretudo ocorreria delimitar o problema de maneira muito mais precisa e resolver as complicações que contornam a resposta. Significaria admitir a complexidade das histórias da existência, a carência de dados rigorosos sobre o argumento, a facilidade com a qual os estereótipos culturais podem chegar a parecer diferenças naturais e a confusão implícita no generalizar as propriedades das populações partindo de um confronto entre as prestações dos seus membros mais eminentes. E isto só para começar. De outra forma apresenta-se uma mistura interessante que não demonstra absolutamente nada acerca da capacidade de nascença de alguém, para não falar depois das diferenças raciais.
Seria necessário admitir que os atletas negros são bastante diferenciados fisicamente entre eles. Seguramente um lineman negro do futebol americano é muito diferente no físico do que um play-maker no basquete. Portanto os dotes inatos que eles possuem e que lhes permite ganhar a vida no esporte profissional não são provavelmente os mesmos, e é talvez mais lógico que haja explicação como dotes individuais, não raciais. É mais provável que o problema seja o por quê uma pessoa negra é mais disposta do que uma pessoa branca, considerando-se racional a fonte do ganho pelo modo do risco excessivo de tal esporte.
Darwin's Athletes, de John Hoberman desmente categoricamente que o domínio negro nos esportes seja motivado por fatores raciais. Não podemos explicar especificamente o por quê uma pessoa se torna melhor do que outra em alguma coisa (isto é matéria para os astrólogos, não para cientistas), mas ao contrário podemos dizer que temos simplesmente uma grande quantidade de forças para o trabalho ao lado das hipotéticas atitudes raciais.
Neste caso, a aporia do racismo é invertida, mas sempre se trata de aporia também. O problema não está no fato se os negros são melhores de nascença, ou piores, em alguma, coisa em relação aos brancos. Ao contrário, não temos algum motivo para presumirmos que qualquer diferença observada seja devida a uma característica inata ou racial. Por exemplo, pensem o quanto é fácil fazer passarem Muhammad Ali e Michael Jordan por negros extraordinários, e bem alienados dos negros que os representam.
É exatamente este o problema. Os atletas são esportistas de ponta e não são quase nada representativos, salvo deles próprios, senão em sentido simbólico.
Todavia, o que tem a ver com as "pessoas negras" se os dez corredores mais velozes são todos negros? No momento, é uma perversão das sensibilidades estatísticas, das mais rudes, ao caracterizarem uma população tendo por base os seus dez membros mais avançados. E além disso os brancos e os amarelos mais velozes não estão tão atrás, estamos falando só com um piscar de olhos, no fundo. E como fazes para saber se não está perdido por algum lugar um branco extremamente veloz?
Para terminar, por todo o talento inato, louvado dos negros, para o basket é preciso recordar com frequência e de boa vontade a campanha de há dez anos passados para enviar os profissionais americanos às Olimpíadas, dado que parecia que o resto do mundo estava em igualdade com os nossos melhores amadores, em supremacia negros.

Jonathan Marks. O que significa ser chimpanzé em 98%, Feltrinelli, 2003, p. 130 - 136

As afirmações de Jonathan Marks são compartilháveis em 90%, todavia para discussão vale a pena fazer alguns esclarecimentos que provavelmente fazem diferença entre o racismo, entendido biologicamente, e o racismo entendido sociologicamente.

Observemos, antes de qualquer coisa, o quanto em 2002 Jonathan Marks ao escrever sobre o racismo em "O que significa ser chimpanzé aos 98%", enganou-se: em 2016 vinha a ser eleito Presidente dos USA Donald Trump, um racista, empresário à margem da bancarrota que tinha a ideia fundamental de construção de um muro anti-imigratório na fronteira com o México.

Cerca de 50% da população dos USA é racista. Assim foi demonstrado com a sua escolha política e Jonathan Marks mentiu procurando passar uma imagem ideal dos USA, tentando esconder a realidade social dos USA.

Exposto isto, como Jonathan Marks inicia o seu discurso? Afirma: "É estupidez dizer que a "criminalidade" é genética, afirmando-o incorri na aporia da hereditariedade (vide infra pp. 136 - 142). Contudo, não o reputo necessariamente racista porque nada diz de específico sobre os presumidos grupos naturais chamados "raças". Mas o racismo não diz que "a criminalidade" é genética; diz que aquele grupo, etnicamente identificado, enquanto grupo social é criminoso. O racismo diz que "os hebreus são usurários porque são hebreus", ou "Os Rom (ciganos) são ladrões porque são Rom". O racismo generaliza comportamentos específicos, e quer ignorar as causas que obrigam as pessoas a pôr em prática tais comportamentos. Quando Donald Trump afirma que quer construir o muro para que os imigrantes do México traficam ou portam droga, não somente faz uma afirmação racista, mas alimenta o racismo na sociedade civil porque, enquanto "autoridade", instiga para que seja alimentada uma opinião precisa sustentada pelo ódio social contra os mexicanos.

O racismo não é estúpido, é funcional à gestão das pessoas reduzidas em massas.

Diferentemente de como afirma estupidamente Jonathan Marks, os pobres não são racistas nem podem ser racistas. Todavia, podem ser induzidos ao racismo quando são constrangidos a pensar que o outro, aquele do outro grupo étnico, pode interferir nas suas condições miseráveis de vida. O racista não é o pobre que é forçado a responder às solicitações do racismo, o racista é quem induz as pessoas à pobreza e à incitações contra um outro grupo étnico com a finalidade de desviar as pessoas das causas que obrigam à pobreza. Os racistas são sempre pessoas abastadas que vivem desfrutando dos pobres (tanto comerciantes quanto outros empresários) e fazem da difusão do ódio racial um método para roubar outros pobres. Os racistas nos estádios italianos, por exemplo, estão em condição de pagarem uma associação dos estádios pelo preço de algumas centenas de Euro sem com isto piorar a qualidade de vida, não podem ser consideradas pobres. Normalmente os racistas fazem parte de uma classe econômica mediana do país.

O racismo não tem se atém somente com a raça. O racismo é um meio ideológico para obter um objetivo, não é fim em si.

O ódio pelo "negro" não é ódio pela "pela negra", mas é o ódio pela interferência do indivíduo na sociedade civil, que alguns enxergam como um perigo. É a percepção de um perigo, verdadeiro ou falso que seja, que alimenta o ódio racista que conduz ao linchamento. O ódio racista é alimentado quando o "diferente" solicita os mesmos direitos daqueles que se julgam a etnia social. O racista é aterrorizado com a igualdade entre os homens. Na Itália o racismo sempre houve.

Nos anos 60 e 70 era contra o "meridionais" e é o mesmo racismo que hoje tem como objeto as pessoas provenientes da África ou do leste da Europa.

Pensar no racismo como ódio pela cor da pele ou pela etnia, significa querer fazer dos racistas de uma forma que ignorem as causas que induzem ao impulso racista, bem como à sua gestão na sociedade civil.

Com efeito, Jonathan Marks tolerou precisamente que "É importante recordar que o fato de as raças não existirem como entidades naturais não recaiu sobre o racismo. O racismo é um fenômeno real, social. Dizer ao contrário, o racismo encaminhado contra os hebreus, irlandeses e porto-riquenhos não é um racismo menor porque as suas vítimas não são membros de unidades biológicas naturais ".

Jonathan Marks parece querer ignorar que o racismo é um instrumento da gestão social. Não são os homens que têm de ser racistas, é o poder que controla a informação que faz, sim, com que os homens se tornem racistas, para o fins visados pelo poder. Por exemplo, a televisão do Estado, italiana, para favorecer a ascensão ao poder do racista Salvini, cada vez que havia um problema social ou um delito, salientava a nacionalidade de quem o havia recomendado na primeira página de crimes, talvez secundários, fatos extracomunitários, fazendo desaparecer um número maior de crimes, inclusive os mais graves, cometidos pelos italianos especialmente quando os delitos eram cometidos por italianos contra os imigrantes. Como exemplo, a subestimação na exploração dos extracomunitários por obra de empresários italianos que usavam dos métodos mafiosos ou dos chefes de gangues. O racismo é construído pela informação e tem como escopo dirigir as tensões sociais contra os pobres e contra os colocados à margem da sociedade que o poder social não quer que se revoltem contra ele próprio.

Todo debate sobre raças, sobre evolução, sobre o vir-a-ser do presente, sobre a qualidade da transformação e da mudança tem sido estimulado pelas observações de Darwin e pela sua atividade de antropólogo-filósofo. que abriu a porta para a interpretação da realidade na qual vivemos.

Ao mesmo tempo eugenética e darwinismo têm tido aplicações destrutivas. E com as informações sobre aplicações de racismo nos USA e na Alemanha hitleriana quero prosseguir com esta discussão que tem continuado há cento e setenta anos. Darwin nos deu um instrumento, mas como nós temos utilizado este instrumento?

Um pequeno exemplo extraído de Jonathan Marks em "O que significa ser chimpanzé aos 98%":

'Para dar um exemplo concreto, pensemos em genética na América nos anos vinte do século passado. Se pegásseis um texto qualquer sobre esse argumento escrito naquele período encontraríeis uma exposição dos méritos da eugenética, a ideia de que a sociedade pode ser melhorada com o cruzamento dos melhores cidadãos. Não somente significava a esterilização forçada dos piores cidadãos, mas também a limitação de entrada de outros cidadãos pouco dotados, que nada mais eram senão os pobres. O movimento acabou se popularizando pelos não estudiosos como o influente Madison Grant que (conforme recordamos no capítulo 5) invocava a esterilização dos "fracassos sociais" no seu besseller de 1916 The Passing or the Great Race. E quem eram estes "rejeitados sociais" que este homem reputava de nenhum valor, pouco convenientes e com necessidade de cirurgia nas gônadas para o bem comum? Grant sonhava com um processo "que sempre começa com os criminosos, os doentes e os loucos e que se estende gradualmente aos tipos que podemos chamar de mais fracos do que afetados por deficiência e talvez, no final das contas, os tipos raciais de pouco valor."
Pois bem! "Tipos raciais de valor escasso". Com certeza começa com os criminosos e depois passa rapidamente a quase todos aqueles que não te agradam.
O livro de Grant foi acolhido como texto moderno e científico (o autor era amigo de Charles Davenport, o principal geneticista de humanos na América) e elogiado por políticos muito diversos como o seu amigo Theodore Roosevelt (com quem Grant havia contribuído na fundação da New York Zoological Society) e o admirador de Grant de além oceano, Adolf Hitler, (Hitler leu a tradução alemã de 1925. Eu gostaria de pensar que fossem poucas as coisas que estavam de acordo com Roosevelt).
Como se não bastasse, o texto foi revisado e elogiado nas principais revistas científicas. Mesmo se divulgada por setores externos da comunidade científica, a eugenética estava fortemente enraizada nela.
O movimento eugenético foi a conquista da campanha para a limitação da imigração (ratificada pelo Congresso em 1924) e para a esterilização forçada dos pobres (confirmada pela Corte Suprema em 1927 e comparada à vacinação com a famosa intimação que por "três gerações de imbecis são suficientes").
O governo estava convencido de agir segundo os melhores princípios científicos modernos. E era verdade. O problema era que poucas pessoas se perguntavam algumas vezes quem eram aqueles cientistas para decidirem quais eram as estirpes benéficas, quem teria sobrevivido, quem deveria morrer, quem podia procriar. Expor uma pergunta deste gênero significava passar por anticientífico, contra a modernidade e adverso ao evolucionismo, uma vez que a eugenética estava encoberta pela autoridade tanto de Darwin como de Mendel.
De conseguinte, Clarence Darrow foi avaliado um traidor quando fustigou a comunidade científica pela sua disponibilidade em revogar os direitos de outras pessoas.
"Entre os projetos para remodelar a sociedade este é o mais desavergonhado e insensato, que jamais pôde ter sido inovador por fanáticos irresponsáveis para perseguir uma raça que tanto já sofreu" escrevera após ter defendido John T. Scopes porque ensinava o evolucionismo.
Darrow havia passado de campeão da biologia ao alvedrio do seu fustigante em menos de um ano. Por quê? Porque estava nauseado dos cientistas, que se manifestavam com autoridade nos campos onde eles tinham pouquíssima preparação, poucas ideias e muita arrogância. O que eles faziam era somente levar a voz da autoridade para o apoio do puritanismo popular.
E se recusavam admiti-lo porque eles falavam de fatos. O movimento eugenético morreu com a chegada da Grande depressão. Depois da queda na Bolsa, os geneticistas compreenderam, tardiamente, que prestigio social e riqueza genética poderiam não estar intimamente relacionados. De qualquer maneira, não era uma grande descoberta científica, apenas uma opinião crescente para direitos humanos, um ponto de vista que os geneticistas americanos viam comprometido rapidamente na Alemanha e eram, ao contrário, combatidos.
Um expoente deles tenaz reputava que os alemães "estão nos vencendo no nosso esporte". Outros eram menos explícitos mas também sempre desafiadores.
Em 1934, colegas e estudantes do principal geneticista alemão, Eugen Fischer, honraram-no com um número especial do "Zeitschrift fur Morphologie und Anthropologie". No prefácio os curadores saudavam-no triunfantes, era o novo governo forte para o poder.
"Estamos no limiar de uma nova era. Pela primeira vez na história do mundo o Fuhrer Adolf Hitler está pondo em prática as teorias sobre as bases biológicas da evolução dos povos: raça, hereditariedade, seleção. Não é uma coincidência que a Alemanha seja a sede deste evento: a ciência alemã presenteia ao político com os instrumentos convenientes."
Em honra de Fischer, os dois principais geneticistas de humanos, americanos, Raymond Pearl da Johns Hopkins e Charles Davenport, deram contribuições à massa.
Nenhum dos dois viveu bastante para ver o final da guerra. Não seria interessante saber como iriam se sentir a posteriori depois de terem visto as suas palavras gravadas no rodapé da página àquelas que foram citadas?
Para completar a história, o prefácio foi escrito por Frelherr von Verschuer, aluno do comemorado Eugen Fischer e bem pouco famoso se não tivesse sido o perito científico de Josef Mengele, o médico infame do campo de concentração de Auschwitz. E o mesmo Fischer pediu e obteve a inscrição junto ao partido nazista de 1940.

Jonathan Marks, "O que significa ser chimpanzé aos 98%", Feltrinelli, 2003, p. 241 - 243

Detive-me muito nos efeitos do trabalho de Darwin. Ainda hoje, as interpretações do seu trabalho limparam-no das incrustações cristãs que o entregaram ao nazismo, com frequência o racismo continua a nutrir-se dos trabalhos de Darwin.

O pensamento de Darwin é um pensamento precioso para toda a humanidade.

Nota: para esta biografia foi consultada a Autobiografia de Charles Darwin em "Viagem de um naturalista ao redor do mundo", ed. Feltrinelli, 1982

Marghera, 03 de outubro de 2018, revisada aos 18 de outubro de 2019

 

 

A tradução foi publicada 10.03.2021

Aqui você pode encontrar a versão original em italiano

 

 

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