A biografia de Martin Heidegger

As biografias dos jogadores - décima terceira biografia

Capítulo 96

A partida de futebol mundial entre os filósofos

Claudio Simeoni
traduzido por Dante Lioi Filho

 

As biografias dos filósofos

 

A biografia de Martin Heidegger

 

Nasce aos 26 de setembro de 1889, o filho de um mestre logista e sacristão da igreja local. É o pároco da região que lhe fornece dinheiro para ele poder frequentar a escola. Ele estuda em Colônia entre os anos de 1903 e 1906 e depois no colégio dos Jesuítas em Friburgo entre 1906 e 1909.

Toda a infância de Martin Heidegger está imersa no cristianismo. Em Heidegger percebemos um amor tão grande por Deus que, em setembro de 1909, ele se torna principiante no colégio dos Jesuítas de Tisis na Áustria. Ele prossegue durante dois anos os cursos da teologia católica para depois se interessar pela ciência e a matemática.

É neste período que ele lê Nietzsche, Schelling, Hegel, Hölderlin, Dilthey.

Neste período é publicada na Alemanha "A Vontade de poder", de Nietzsche, morto havia pouco tempo.

Entre os anos de 1910 e 1911 ele estuda Husserl.

Heidegger em 26 de julho de 1913 conquista o doutorado.

Em 1914 Heidegger se alista no exército, como voluntário, mas poucos meses depois é dispensado por motivos de saúde.

Engelbert Krebs foi o teólogo católico e sacerdote que guiou Heidegger para se tornar docente junto à universidade de Friburgo.

Em 1915 Heidegger é convocado às armas e servirá para a função junto aos serviços postal e meteorológico.

Em 1917 Heidegger contrai núpcias com Elfride Petri, filha de protestantes. O matrimônio se desdobrará em dois momentos, um pelo ritual católico e o outro pelo ritual protestante.

Parece que, ao que diz respeito aos problemas da formação do conhecimento, Heidegger em 1919 se distancia do catolicismo, porém não do cristianismo. De modo que, isto acontece no mesmo momento em que é consentido a Heidegger tornar-se assistente de Edmund Husserl. Eis que, Edmund Husserl está no seu auge, como filósofo naquela ocasião, sendo o pai da fenomenologia e um estudioso da lógica matemática.

A resposta sobre "o que fazemos sobre a face da terra como homens" torna-se o objeto de estudo de Heidegger que é denominado "facticidade" [na fenomenologia e no existencialismo, é o puro e contingente subsistir de um objeto, de uma coisa, às vezes em decorrência de ser diferente da realidade da existência humana] que é examinada por meio da "Hermenêutica" [No pensamento contemporâneo, é a concepção da atividade filosófica que a identifica como uma interpretação contínua não apenas dos textos, mas inclusive da existência humana inteira].

Para salientar o sentido da existência pela atividade filosófica própria, Heidegger coloca como sendo o fundamento dos seus estudos Paulo de Tarso, Agostinho de Hipona, Lutero, Kierkegaard e Aristóteles.

Em 1920 ele depara com Karl Jaspers (1883 - 1969) com quem se relacionará, relação que durará cinquenta anos entre filosofia e nazismo.

Em 1922, por meio da esposa, constrói para si um chalé na floresta negra.

Em 1923 é nomeado professor provisório junto à universidade de Marburg, por Natorp. Em Marburg ele permanecerá até 1928. Os relacionamentos, com os teólogos, são muito dinâmicos e fecundos. A teologia cristã é o elemento central para a preparação do ensaio "Ser e tempo".

É em 1928 que Husserl trabalha para ser substituído por Heidegger, porque deve deixar o ensino por ter atingido o limite de idade. Aos 15 de setembro de 1935 é privado da cidadania alemã, por ser judeu. A fenomenologia de Husserl não está em contraste com a ideologia nazista. Nazismo, cristianismo, catolicismo, protestantismo são nomes diversos com os quais é chamada a mesma ideologia que se apresenta globalmente igual, mas com aparências diferentes, conforme o momento eventual. Husserl e outros não estão separados por pensarem diferentemente do nazismo, mas estão separados porque não são da raça ariana. Em síntese, o povo eleito e a raça ariana disputam a primogenitura diante do Deus cristão que se regozija com este conflito. Neste período Heidegger evita da maior maneira possível qualquer contato com "o pestilento judeu" Husserl.

Husserl fica furioso, mas depois, leva em consideração que é "um pestilento hebreu" e se consola pensando que Heidegger era o mais capaz dos seus alunos. Heidegger não participará dos funerais de Husserl.

Em 1924 Heidegger irá deparar com a estudante de dezoito anos Hannah Arendt com quem ele terá uma relação duradora, e terá uma afinidade ideológica. Hannah Arendt, ideologicamente conforme o nazismo, todavia será obrigada a fugir para o USA por ser judia. Será ela quem defenderá Heidegger depois da segunda guerra mundial.

Em 1927 Heidegger publicará o livro "Ser e tempo".

Em 1925 lhe é oferecido para ser o sucessor de Nicolai Hartmann, na primeira cátedra de filosofia, mas em 1926 o ministério rechaça a petição. O pedido será acolhido em outubro de 1927 após ter publicado "Ser e tempo".

Aos 8 de julho de 1927 Heidegger participa de uma conferência na universidade de Tubinga (faculdade de teologia), ocasião em que ele demonstra a exata relação entre fenomenologia e teologia cristã.

Em janeiro de 1929 em Frankfurt ele esbarrará com Theodor Adorno na ocasião da sua dissertação acerca da relação entre a antropologia filosófica e a metafísica do existir.

Houve uma infinidade de "filósofos" que, ignorando a participação de Heidegger junto ao partido nacional-socialista, evitaram observar que o todo o sistema de pensamento de Heidegger nada mais é senão a ideologia nazista. Como em todo o pensamento de Husserl ou no pensamento de Hannah Arendt. Ambos os filósofos não estão afastados porque o pensamento filosófico deles diverge da ideologia nazista, mas estão afastados por serem judeus. De modo que, distinguir a ideologia nazista em "Ser e tempo" significa buscar a gênese do nazismo onde a sua representação, tanto ideologicamente como concretamente, nada mais é a não ser a representação política do modelo da bíblia. Neste engano participaram inclusive italianos tais como Emmanuele Severino e Umberto Galimberti.

Em síntese, estes filósofos não dizem que o conceito de "controle" manifestado por Heidegger em "Ser e Tempo" constitui um conceito ideológico nazista (o que é a solução final senão o controle nazista por parte da sociedade alemã?), mas vieram a dizer que, afinal, a inscrição de Heidegger junto ao partido social-nacionalista teve como escopo apenas o ensinamento dele junto às universidades.

Aos 30 de janeiro de 1933 Adolf Hitler, do partido nacionalista alemão dos trabalhadores, obtém a incumbência de formar o governo. Os nazistas estando em minoria no parlamento, decidem incendiá-lo e acusam os comunistas como sendo os incendiários. É mais ou menos como os cristãos que incendiaram Roma e acusaram Nero.

Aos 5 de março de 1933 o partido de Hitler vence as eleições. Aos 23 de março de 1933 Hitler forja a aprovação de uma lei que confere ao seu governo poderes excepcionais. Aos 7 de abril o governo de Hitler ratifica uma lei com a qual os funcionários públicos, que não eram arianos, viessem a ser afastados dos seus cargos de trabalho.

Em abril de 1933 Heidegger torna-se reitor da universidade Albert-ludwigs, em Friburgo, onde inicia não apenas a desenvolver as suas ideias cristãs com a formação da ideologia nazista, mas influi efetivamente para conseguir transformar a universidade num centro de propaganda nazista. O reitor precedente, Wilhelm von Möllendorf, tinha tentado de todos os modos para se opor ao afastamento dos professores de origem judia. Os docentes nazistas guiados por Wolfgang Aly propõem a nomeação de Heidegger. Não é apoiado pelos votos de treze docentes de origem hebraica, votos dos quais todavia, pela nova lei, não podiam ser contados.

Em 1 de maio de 1933 Heidegger se inscreve junto ao partido nacional-socialista.

Em 27 de maio de 1933 Heidegger toma posse oficialmente na universidade com um discurso (A autoafirmação da universidade alemã), discurso este que será criticado por oportunismo (Benedetto Croce) e que será exaltado pela imprensa nazista. O discurso será estimado por Karl Jaspers que, em 23 de agosto de 1933, enviar-lhe-à uma carta com cumprimentos embora posteriormente tenha se arrependido. O discurso de Heidegger nada mais é senão uma reapresentação da tripartição platônica, tão adorada pela ideologia nazista, operários e escravos, guerreiros e filósofos na posição de comando. Ela discorrerá do "serviço de trabalho", "serviço da defesa", "serviço do saber". A hierarquia de Platão está sempre presente na ideologia dos cristãos e dos nazistas.

Em setembro de 1933 são oferecidas a Heidegger as cátedras de filosofia em Berlim e Mônaco. Estas cátedras são rejeitadas por Heidegger, mas naquele período ele é criticado tanto pelos docentes nazistas de filosofia que não veem nos seus escritos a Weltanschauung [Concepção da vida, do mundo; modo com que indivíduos singulares ou grupos sociais consideram a existência e as finalidades do mundo e a posição do homem no mundo], que é tipicamente nazista.

Erich Rudolf Ferdinand Jaensch, um filósofo e psicólogo nazista, descreve Heidegger como um perigoso esquizofrênico e um defensor da ideologia hebraica.

No ano de 1934 a Heidegger é oferecida a direção da "Liga dos docentes nacional-socialistas", mas Ernst Krieck, que aspira ocupar esse mesmo cargo, mediante um artigo ataca Heidegger e afirma que o controle e a angústia, em Ser e Tempo, são posições sustentadas nos ambientes hebraicos. De fato, Heidegger não fala de povo, de raça ou de Estado.

Aos 14 de abril de 1934 Heidegger se demite da função de reitor da universidade de Friburgo. As demissões de Heidegger, segundo alguns estudiosos, foram devidas à desilusão, porque o nazismo não era suficientemente ativo contra o idealismo e o conservadorismo que, segundo ele, imperavam nas universidades. Tratava-se de um tipo de luta para a pureza da cultura ariana que, veio a fracassar conforme Heidegger declarou, fato que levou-o a demitir-se.

Heidegger costumava denunciar os docentes judeus contrários a ele, ao passo que ajudava judeus com os quais nutria simpatia e, assim, conseguia-lhes um cargo no exterior. Não há dúvida de que Heidegger participou do nazismo, com entusiasmo, bem como a sua ascensão ao poder, e agiu com força e determinação para transformar a universidade em universidade nazista. No entanto, auxiliou alguns judeus tal como a sua amante confidente Elisabeth Blochmann, ajudando-a na fuga para a Inglaterra.

Karl Löwith, Hans Jonas, Hannah Arendt e Herbert Marcuse, alunos de Heidegger, apressaram-se em dizer que Heidegger não era antissemita. Houve uma campanha grande de propaganda para as pessoas acreditarem que Heidegger não estava contra os hebreus, mas se adaptava às circunstâncias. Posteriormente, em 2014 foram publicados os Cadernos Negros e, então, não houveram dúvidas sobre Heidegger ser nazista convicto.

Donatella Di Cesare escreve no Corriere della Sera do dia 8 de fevereiro de 2015 no artigo com o título "Heidegger: "Os judeus se autodestruíram" tendo como subtítulo: "Nos novos "Cadernos negros" do filósofo a interpretação choque da Shoah":

"Alineado ao seu antissemitismo metafísico, Heidegger vê, portanto, no extermínio, uma "autodestruição". A Judenschaft, a "comunidade dos judeus" - escreve em 1942 - "é na época do Ocidente cristão, isto é, da metafísica, o princípio da destruição". Um pouco mais adiante acrescenta: "Só quando aquele que é essencialmente "judeu", no sentido metafísico, luta contra o que é hebraico, atinge-se o clímax da autodestruição na história".

A Shoah teria então um papel decisivo na história do Ser, porque coincidiria com a "suma execução da técnica" que, depois de ter arruinado cada coisa, consuma a si mesma. Neste tal sentido o extermínio dos judeus representaria aquele momento apocalítico em que aquilo que ele destrói acaba por autodestruir-se. O ápice "da autodestruição na história", a Shoah também torna possível, portanto, a "purificação do Ser".

Em 1934, Heidegger torna-se membro da Comissão de filosofia do Direito da Academia em prol do direito alemão, e em maio se depara com Elisabeth Nietzsche, conhecendo assim o arquivo Nietzsche.

Não publicará nada até 1942.

1945 com a queda do regime nazista, Heidegger é impedido de ensinar sendo readmitido ao ensinamento em 1949 mediante a intervenção de Jaspers.

Jaspers sabia que Heidegger era nazista, mas não entendia bem em que e por quê, no fundo a filosofia de Jaspers não tem muita diferença da filosofia de Heidegger. Em 1947 Heidegger critica o existencialismo humano de Sartre realçando a diferença nos campos de interesse das duas filosofias.

Entre 1959 e 1969 ele continua desenvolvendo o conceito de técnica que se tornará tão bem aceito por Umberto Galimberti. A chegada da técnica destina-se, segundo Heidegger, a abalar o homem profundamente.

Em 1975 Hannah Arendt morre, aquele que defendeu Heidgger quando após a segunda guerra mundial os docentes foram investigados nas suas participações com o nazismo.

Em 1976 Heidegger morre em Friburgo.

Quem inspirou o pensamento de Heidegger?

Emanuele Severino, Emil Cioran, Jean-Paul Sartre, Georges Bataille, Herbert Marcuse, Michel Onfray, Umberto Galimbert, Albert Camus, Alexandre Kojève.

Salientam-se, particularmente, Emanuele Severino e Umberto Galimberti que se preocuparam em enxertar na Itália a ideologia filosófica nazista.

Na Alemanha Heidegger foi apagado e marginalizado da cultura quando evidenciou-se, claramente, que não haveria mais dúvidas de que ele era nazista. O nazismo de Heidegger está inserido em todos os seus escritos, mas está de tal forma difundido entre os filósofos que os próprios filósofos não são capazes de distinguir a sua filosofia nazista, leem os textos filosóficos, por meio de outras ideologias. Eles têm necessidade de que alguém declare abertamente as suas simpatias nazistas pessoais. Somente, então, cairão na realidade. Tal como Jaspers, de quem a filosofia nazista não é censurada, enquanto tal, porque ele não se inscreveu junto ao partido nazista.

Marghera, 25 de setembro de 2018,

 

 

A tradução foi publicada 22.01.2021

Aqui você pode encontrar a versão original em italiano

 

 

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